Crise no Corredor Econômico Índia-Mediterrâneo
A tentativa de estabelecer o Corredor Econômico Índia-Mediterrâneo (IMEC) enfrenta complicações sérias, independentemente do recente bombardeio israelense a Gaza. Uma série de desafios geopolíticos e econômicos ameaçam a viabilidade do projeto que visa criar uma rota marítima entre Haifa e Pireu, passando por águas disputadas e dependente do financiamento do setor privado.
Uma das principais dificuldades enfrentadas pelo IMEC está relacionada à posição da China no cenário geopolítico. A gestão de portos estratégicos, como o porto de Pireu, pela China Ocean Shipping Corporation e investimentos em portos de Dubai por empresas chinesas, tornam ilusória a tentativa de isolar a China por meio desse corredor. Além disso, o envolvimento do Grupo Adani, com laços com o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, coloca em questão a verdadeira natureza das motivações por trás do IMEC.
Outra complicação relevante diz respeito à disputa de águas entre a Turquia e a Grécia, que a rota do IMEC atravessaria. A “Disputa do Egeu” levou o governo turco a ameaçar guerra, caso a Grécia avançasse com seus planos para o corredor.
Além disso, o processo de “normalização” entre a Arábia Saudita e Israel, essencial para o sucesso do IMEC, enfrenta obstáculos decorrentes do recente bombardeio israelense a Gaza. A formação do Grupo I2U2, composto por Índia, Israel, Emirados Árabes Unidos e Estados Unidos, visa parcerias privadas para “modernizar a infraestrutura” e “avançar nas vias de desenvolvimento de baixo carbono”, mas encontra-se comprometido pelo conflito na região.
Finalmente, o historiador e jornalista indiano Vijay Prashad aponta que projetos anteriores de rotas comerciais indianas também fracassaram devido a uma série de razões, e argumenta que o IMEC pode estar fadado ao mesmo destino, em parte devido ao conflito entre Israel e Palestina, mas também devido à “fantasia” de Washington de que pode “derrotar” a China numa guerra econômica.
Diante da complexidade das questões geopolíticas e econômicas que cercam o IMEC, é evidente que o projeto enfrenta desafios significativos para se estabelecer como uma rota comercial viável e sustentável no contexto atual.