Estudo brasileiro revela mecanismo genético associado ao risco de Alzheimer e abre caminho para detecção precoce da doença

Um estudo realizado por pesquisadores brasileiros da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) revelou o mecanismo que está por trás de um marcador genético associado a um maior risco de desenvolvimento do Alzheimer. O artigo, publicado recentemente na revista especializada Nature Aging, descreve como a presença de um ou dois alelos do gene Apoe (apolipoproteína E) aumenta de três a 15 vezes o risco de desenvolver a doença.

Segundo a pesquisa, esse gene acelera o acúmulo de proteínas beta amiloide e tau no cérebro, que estão relacionadas ao declínio cognitivo. Esse aumento é causado pela hiperfosforilação, um processo em que uma molécula de fosfato é adicionada à proteína. Em circunstâncias normais, a proteína tau tem a função de reparar a estrutura dos neurônios. Porém, na forma hiperfosforilada, ela falha em manter a integridade dessas estruturas, resultando em morte celular.

Além disso, a presença de uma ou mais variações desse gene também acelera o acúmulo de placas de proteína amiloide, que são os principais fatores ligados ao dano cerebral e ao declínio cognitivo associados ao Alzheimer.

Os resultados dessa pesquisa são importantes porque podem auxiliar na detecção precoce do Alzheimer, permitindo que pacientes que carreguem o gene sejam identificados por meio de um exame de sangue. João Pedro Ferrari Souza, doutorando em bioquímica na UFRGS e aluno de medicina na mesma instituição, explica que cerca de 25% da população possui uma cópia desse gene, enquanto aproximadamente 1% possui duas cópias, o que representa mais de um quarto da população com um alto risco de desenvolver demência.

No entanto, ele ressalta que a presença dessa variação genética não significa necessariamente que a pessoa terá Alzheimer de origem hereditária, que corresponde a cerca de 10% dos casos. O estudo foi realizado ao longo de dois anos e envolveu a análise de 94 pacientes com Alzheimer dentro de um grupo de estudo chamado Triad, da Universidade McGill, no Canadá. Os participantes foram submetidos a quatro análises distintas para verificar a presença do gene Apoeε4: análise do líquido cerebral na barreira crânio-cérebro, exames de sangue, ressonância magnética e tomografia específica para a detecção de placas de amiloide.

Os pesquisadores observaram que a presença do alelo Apoeε4 potencializa os efeitos deletérios da proteína beta amiloide. Pessoas que possuíam uma cópia do alelo tinham de três a quatro vezes mais chances de desenvolver a doença, enquanto aquelas com duas cópias tinham de 12 a 15 vezes mais chances em comparação com indivíduos que não carregavam o gene.

Souza acredita que essas descobertas podem ser utilizadas em combinação com as novas drogas aprovadas para o tratamento da fase inicial do Alzheimer, como o donanemabe, da Eli Lilly, e o lecanemab, da Biogen. No entanto, essas drogas ainda não estão disponíveis no Brasil.

Atualmente, no país, os medicamentos disponíveis para o tratamento do Alzheimer são os anticolinesterásicos (donepezil, galantamina e rivastigmina) e a memantina, que são usados para reduzir os sintomas da doença. No entanto, os ensaios clínicos desses medicamentos mostraram efeitos colaterais significativos, como edemas e hemorragias cerebrais, embora sejam raros.

Apesar disso, Souza está otimista de que a descoberta de sua equipe pode abrir caminho para novos estudos e desenvolvimento de drogas mais eficazes para o tratamento do Alzheimer, uma condição neurodegenerativa que deve afetar mais de 100 milhões de pessoas em todo o mundo até 2030.

Fonte: Adaptado de [inserir fonte]

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