Militância petista ataca humorista por defender nomeação de mulher negra para o STF

Nos últimos dias, o humorista Gregorio Duvivier tem sido duramente atacado pela militância virtual petista por ter defendido a nomeação de uma mulher negra para o Supremo Tribunal Federal (STF). No entanto, vale ressaltar que Duvivier apenas apoiou uma reivindicação do movimento negro, um dos movimentos sociais que fundaram o PT.

Curiosamente, em vez de criticarem diretamente o movimento negro, alguns optaram por atacar o humorista, com o intuito de fazer parecer que, se o ex-presidente Lula não nomear uma ministra negra para o STF, ele estará desagradando a chamada “esquerda do Leblon” e não a parcela significativa de brasileiros negros que vivem em áreas distantes do bairro do Manoel Carlos.

No entanto, não é difícil entender o motivo pelo qual Lula indicou o advogado Cristiano Zanin e, possivelmente, outro jurista próximo a ele para o STF. Desde o julgamento do caso do mensalão, quando membros do PT foram presos, com exceção de Dilma Rousseff, que acabou sofrendo impeachment, os presidentes têm nomeado ministros alinhados a eles. Considerando o atual cenário político no Brasil, com um Congresso conservador e um presidente próximo a Bolsonaro, é compreensível que Lula esteja buscando se proteger.

Além disso, é importante mencionar que parte da militância petista teme uma repetição dos protestos que ocorreram em junho de 2013. Embora tenha começado como um movimento de esquerda, essa mobilização acabou sendo apropriada pela direita à medida que crescia.

Embora essas considerações políticas tenham sua relevância, a demanda do movimento negro deve ser levada em conta. Aqueles que criticaram Duvivier precisam apresentar seus argumentos diretamente à militância, incluindo a militância do movimento negro, de forma transparente.

Mesmo para aqueles que acreditam que o cálculo político deva prevalecer, é importante reconhecer que é uma derrota para a esquerda ter os primeiros indicados de Lula para o STF, e provavelmente o segundo também, sendo homens brancos. Certamente, existem excelentes candidatos negros com potencial para se tornarem ótimos ministros no futuro.

Podemos observar que esse episódio é um exemplo clássico de como o racismo se perpetua através das consequências indiretas além dos atos de discriminação direta. A baixa representatividade negra nos círculos jurídicos frequentados pelos presidentes brasileiros faz com que, quando surge a pergunta “quem eu posso indicar que seja mais próximo de mim?”, tenha-se poucas opções de negros e negras em mente.

Esse mecanismo também afeta a representatividade das mulheres nas reformas ministeriais, já que a falta de apoio partidário impede que ministras, como Ana Moser, permaneçam no cargo. Séculos de machismo impediram que as mulheres brasileiras alcançassem força política dentro dos partidos.

Por isso, lutar pela representatividade é essencial para desequilibrar esses mecanismos que perpetuam a sub-representação. O objetivo não é introduzir um viés de gênero ou racial nas instituições, mas sim incluir indivíduos cujas experiências de vida possam contribuir para corrigir os vieses já existentes nas instituições brasileiras.

Vale ressaltar o impacto que a presidência de um operário, que nasceu na pobreza e se destacou por liderar outros trabalhadores, teve na redução das taxas de pobreza no país. Esse exemplo mostra que pessoas com diferentes vivências e perspectivas podem trazer mudanças significativas para a sociedade.

É importante refletir sobre essas questões mais amplas ao discutir a nomeação de ministros para o STF, levando em consideração tanto o aspecto político quanto a demanda por representatividade racial e de gênero.

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