O relatório, que possui 779 páginas, não apenas revela o número alarmante de vítimas, mas também aponta que a maioria dos abusos foi cometida por membros do clero, como padres e sacerdotes, totalizando 233 mil casos. Outros 207 mil casos foram perpetrados por funcionários de igrejas ou escolas religiosas.
Essas revelações abalam ainda mais a Igreja Católica, que já vem enfrentando uma série de escândalos de abuso sexual contra crianças nos últimos 20 anos em todo o mundo. Na Espanha, um país tradicionalmente católico, as acusações de abuso só começaram a surgir nos últimos cinco anos, sendo inicialmente negadas pelo alto clero.
Comparando com a França, que calculou em 330 mil o número de vítimas de abuso (200 mil cometidos por padres), a Espanha se encontra em uma posição ainda pior, com mais de 1% de sua população sendo vítima de abuso em contexto religioso, tornando-se o país mais afetado pelo problema no mundo.
Para elaborar o relatório, que é o primeiro estudo oficial do governo sobre abusos da Igreja, o “defensor del pueblo” Ángel Gabilondo entrevistou várias vítimas e teve grandes dificuldades em obter a colaboração do clero. “Nem todos os bispos colaboraram, alguns nos repreenderam”, afirmou Gabilondo ao apresentar o relatório ao Congresso. Ele também criticou a postura da Igreja de minimizar o problema e destacou a importância de colaboração com a sociedade.
O documento também menciona a falta de colaboração da Igreja Católica e sua visão antiga de que o abuso sexual era apenas um pecado do agressor, ignorando o dano causado à pessoa abusada. Além disso, sugere a criação de um fundo estatal para compensar as vítimas de abuso.
O primeiro-ministro Pedro Sánchez, atualmente na Bélgica para um encontro de líderes europeus, elogiou o relatório por trazer à tona uma realidade que todos conheciam, mas que ninguém falava. Ele se comprometeu a estudar as recomendações do relatório, especialmente a criação do fundo para compensar as vítimas de abuso.
Esse relatório revela a necessidade urgente de enfrentar e combater os abusos sexuais cometidos por membros religiosos, bem como garantir o apoio e a justiça para as vítimas. A sociedade e a Igreja devem trabalhar em conjunto para garantir que esses crimes não fiquem impunes e que as vítimas recebam o suporte necessário para se recuperarem dos traumas causados pelos abusos.