Rússia e OTAN: Tensões, ameaças e guerras híbridas na fronteira europeia – Putin e a busca por um novo sistema internacional.

Expansão da OTAN e as tensões com a Rússia: A escalada do conflito na Ucrânia

Com Putin no governo, a Rússia tentou inicialmente se incorporar à União Europeia, terminar com as percepções de ameaças cruzadas e definir um sistema de segurança comum, mas seu pedido foi rejeitado. Putin sentiu-se humilhado e sobre o discurso da dignidade do povo russo iniciou seu fortalecimento político e a recuperação econômica e militar da Rússia. Diferentemente do caso da Rússia, outros países do Leste foram incorporados à União Europeia (UE), e a OTAN foi se esticando em ondas de expansão rumo ao Leste, aproximando perigosamente sua capacidade militar às fronteiras da Rússia. Estava claro para qualquer observador, a OTAN tinha justificado sua existência definindo um inimigo: Rússia. Para tornar plausível essa ameaça aparentemente inexistente, se abre o teatro de operações psicossocial com um operativo midiático corporativo para modular as percepções sociais do “ocidente”. Mas, por outro lado, quando se identifica um país como “inimigo”, se acaba de fato criando um inimigo.

Na Conferência de Segurança Europeia de Munique, em 2005, Putin advertiu que a expansão da OTAN para o Leste constituía uma ameaça existencial para a Rússia e que seu país se prepararia para se defender. Não obstante essa advertência, a OTAN continuou se aproximando das fronteiras russas, ofensiva complementada com tácticas de guerra híbrida. O intento de incorporar a Georgia, a 1.957 quilômetros de Moscou, foi a gota d ‘ água, e a resposta russa foi imediata, deixando claro que as ameaças do ocidente tinham sido levadas a sério pela Rússia.

Ante essa resposta, o ocidente muda de estratégia e começa incentivar grupos de extrema-direita financiados pelos EUA para provocar instabilidade social na Ucrânia, ao tempo que treinava e financiava o nazista Batalhão Azov. Todo esse preparo foi detalhado por Victoria Nuland ante o Congresso americano. Esta operação desembocará na “primavera” ucraniana (nome da tática híbrida da desestabilização), no sangrento golpe da Euromaidan em fevereiro de 2014. Tomado o poder, se inicia um movimento russofóbico, com perseguições violentas.

As províncias do Donbass, de cultura e língua russa, se levantam pedindo autonomia e recebendo, como resposta, uma guerra civil que cobrou a vida de quase 15 mil civis, sob o silêncio cúmplice da Sociedade Internacional. Com a chegada ao poder do comediante Zelensky, se agudiza a pressão russofóbica, com repressão violenta em Kiev e ameaças ao Donbass. Solicita o ingresso à UE e à OTAN e ameaça renunciar ao Memorando de Budapeste, assinado em 1994, pelo qual a Ucrânia abdicava de contar com armamento nuclear no seu território.

Com essa renúncia, ficava colocada a possibilidade da OTAN apontar seus mísseis desde o território ucraniano, a 7 minutos de Moscou. No começo de 2022 há uma forte concentração de forças ucranianas na fronteira do Donbass, encabeçada pelo batalhão Azov, ameaçando invadir as “províncias rebeldes”. Nessas circunstâncias e com o reconhecimento da declaração de independência das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk pela Duma russa, Putin move tropas para a sua fronteira com a Ucrânia.

Assim, rapidamente desenhado neste reduzido espaço, fica configurado o cenário montado durante pouco mais de três décadas, a partir do Fim da Guerra Fria, para impor uma ordem mundial regida por regras decididas casuisticamente pelos interesses ocidentais. Mas também constitui o ponto de inflexão da história, o ponto em que aquelas camadas tectônicas, mencionadas no começo deste texto, começam a mostrar seu perfil e sua proposta para um novo sistema internacional multilateral, que pretendemos analisar nas próximas colunas.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo