Tensões no Haiti aumentam à medida que a polícia foge da violência e confrontos com brigada armada.




Violência aumenta no Haiti

Violência no Haiti gera tensões políticas e sociais

No Haiti, à medida em que o número de assassinatos e sequestros aumentam, até a polícia está fugindo.

Sem um presidente eleito no cargo e um primeiro-ministro considerado ilegítimo, surgem apelos para a destituição do governo de uma fonte improvável: uma brigada de policiais armados responsáveis pela proteção de áreas ambientalmente sensíveis.

Nesta semana, membros armados e uniformizados da brigada entraram em confronto com as forças governamentais no norte do Haiti, aumentando as tensões em uma nação já fragilizada, onde gangues assumiram o controle de grandes áreas da capital, Porto Príncipe, e estão causando estragos em áreas rurais.

Brigada de Segurança de Áreas Protegidas

O grupo ambiental Brigada de Segurança de Áreas Protegidas (conhecida como B-SAP), ficou irritado depois que o primeiro-ministro demitiu seu líder. Na quarta-feira, os oficiais do grupo tentaram invadir o escritório local de alfândega, e as unidades da polícia nacional haitiana os repeliram usando gás lacrimogêneo.

A volta de Guy Philippe

O que preocupa analistas é a lealdade que alguns dos líderes do grupo declararam publicamente a Guy Philippe, um ex-comandante de polícia e membro ativo em golpes, que retornou ao Haiti depois de cumprir seis anos em uma prisão federal dos EUA.

Philippe retornou para casa, e tem, em menos de dois meses, viajado o país, fortalecendo o apoio à sua chamada revolução. “Estamos falando de uma revolução, mas não uma revolução sangrenta”, disse o Philippe em uma entrevista. “Não matamos ninguém. É tudo sobre manifestações pacíficas.”

Philippe foi um dos líderes do golpe de 2004 que derrubou o presidente Jean-Bertrand Aristide. Procurado por anos pelos Estados Unidos por tráfico de drogas, ele viveu livremente no sul do Haiti como fugitivo. Ele foi preso em 2017, pouco antes de assumir o cargo de senador, condenado em um tribunal federal dos EUA por lavagem de dinheiro. Philippe foi deportado para o Haiti em novembro. Especialistas viram isso como uma jogada destinada a inflamar a política local.

“Este é um cara que tem manobrado e conspirado por 20 anos para tomar o poder no Haiti”, disse James B. Foley, que foi embaixador dos EUA no Haiti durante o golpe de 2004. “Nós o indiciamos, o extraditamos e o deixamos de lado, e agora o enviamos de volta para um Haiti que está em total anarquia, e o resultado é óbvio, previsível e horrível.”

Revolta e tensões políticas

Desde que retornou, Phillippe tem vivido em sua base em Pestel, e disse que planeja ir a Porto Príncipe nos próximos dias para realizar protestos. Ele espera que a grande maioria da população o apoie na exigência pela renúncia do primeiro-ministro, Ariel Henry.

Analistas acreditam que o desapontamento geral da população com Henry, principalmente na incapacidade da polícia nacional lidar com as gangues, dará força às intenções de Phillippe. “Se fosse um golpe, seria um golpe legítimo, mas não estamos fazendo nenhum golpe”, disse Philippe. “Não estamos aqui para tomar o poder pela força.”

Em um comunicado, o primeiro-ministro disse estar alarmado com as ações inadequadas de muitos membros do B-SAP, que, segundo ele, não possuem estrutura legal ou administrativa. Henry afirma que a cobertura da imprensa junto aos oficiais rebeldes corre o risco de criar confusão sobre o trabalho legítimo do grupo de vigilância ambiental. O governo criou uma comissão para revisar o trabalho da agência.

Desafios para o governo

A segurança no Haiti se deteriorou após o assassinato do presidente Jovenel Moïse em 2021. O país não tem sido seguro o suficiente para realizar eleições, e Ariel Henry, o primeiro-ministro nomeado, pediu intervenção internacional.

Os Estados Unidos têm pressionado fortemente por uma missão de segurança planejada para o Haiti liderada pelo Quênia, o que alguns analistas veem como um endosso tácito à liderança de Henry. Philippe denunciou publicamente a missão do Quênia, dizendo que ela apoiaria o governo de Henry e apoiaria o “imperialismo”. Ele também divulgou um vídeo chamando os quenianos de “irmãos africanos”, mas advertindo que, se aceitassem a implantação, seriam vistos como “inimigos”.

A situação do Haiti não poderia ser mais grave. De um contingente de cerca de 15 mil policiais, quase 3.000 policiais abandonaram seus postos nos últimos dois anos, de acordo com dados da polícia. Mais de 150 mil pessoas fugiram para os Estados Unidos no ano passado.

Mais de 4.700 pessoas foram mortas no Haiti no ano passado e quase 2.500 foram sequestradas. Um grupo de freiras locais foi mantido refém por quase uma semana antes de ser libertado na quarta-feira. A implementação da missão de segurança multinacional a ser liderada pelo Quênia foi adiada por decisões judiciais internas.

Graves consequências

O Haiti, que já foi lar de uma força policial secreta conhecida como Tonton Macoutes, tem uma longa história de forças paramilitares que cometem atrocidades. O risco é ainda maior se o grupo de segurança B-SAP se aliar a gangues locais. A segurança no país é um desafio muito grande, com a instabilidade política e social que se agrava a cada dia.


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