Desembargadores do Paraná anulam condenações do Caso Evandro, absolvendo réus após novo julgamento de crime de 1992.

Absolvição dos acusados da morte de Evandro Ramos Caetano gera polêmica

Após mais de quatro horas de julgamento, os desembargadores da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná anularam as condenações dos quatro acusados de matar o garoto Evandro Ramos Caetano, de seis anos de idade, em 1992, na cidade de Guaratuba, no litoral do Paraná. A decisão de absolvê-los por três votos a favor e dois contrários gerou repercussão e polêmica.

O processo integral tem cerca de 152,5 mil páginas, incluindo cinco julgamentos ao longo dos anos de 1998, 1999, 2004, 2005 e 2011. O primeiro julgamento durou 34 dias e ficou conhecido como o julgamento do tribunal do júri mais longo da história brasileira. Nele, Beatriz Abagge e sua mãe, Celina Abagge, foram julgadas e inocentadas da acusação de encomendar a morte de Evandro para a realização de um suposto ritual satânico – conclusão apontada pela Polícia Militar, em 1992, e corroborada pelo Ministério Público estadual.

Após a anulação do primeiro julgamento, Beatriz foi julgada novamente em 2011, quando foi condenada a 21 anos de prisão, mas cinco anos depois, a Justiça lhe concedeu o perdão da pena. A ex-primeira dama Celina não foi mais levada a julgamento, pois seu crime foi considerado prescrito devido à sua idade.

Davi dos Santos Soares, Osvaldo Marcineiro e Vicente de Paula Ferreira começaram a ser julgados pelo Tribunal do Júri em 1999, mas o julgamento foi interrompido e concluído em 2004, quando os três foram condenados. Os dois primeiros cumpriram suas penas, enquanto Ferreira morreu na prisão, em 2011, devido a complicações de um câncer. Outras duas pessoas acusadas foram inocentadas em 2005: Airton Bardelli dos Santos e Francisco Sérgio Cristofolini.

A polêmica tomou ainda mais proporção com a divulgação, em março de 2020, de áudios que reforçaram a tese de que policiais torturaram os acusados para que assumissem ter matado Evandro. As gravações obtidas pelo jornalista Ivan Mizanzuk foram divulgadas no podcast Projetos Humanos e serviram de base para a defesa pedir a revisão das sentenças proferidas anteriormente.

Durante o julgamento, o relator do caso, desembargador Miguel Kfouri Neto, defendeu que as novas fitas obtidas pelo jornalista deveriam ser submetidas a novas perícias para verificar sua autenticidade. No entanto, o voto de Kfouri Neto contra a revisão foi acompanhado pela desembargadora Lidia Maejima. Já os desembargadores Adalberto Jorge Xisto Pereira, Gamaliel Seme Scaff e Sergio Luiz Patitucci entenderam que os réus foram torturados e, portanto, suas confissões não têm valor legal.

A absolvição dos acusados gerou indignação em algumas correntes da sociedade, que alegam que a decisão não considerou devidamente as demais provas e informações apresentadas durante os julgamentos anteriores, resultando em uma aplicação inadequada da lei.

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