O Atlas revela um contexto complexo, mostrando que apesar de regiões como Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai possuírem recursos naturais em abundância, um modelo econômico ineficiente falha em alimentar adequadamente a população. Com índices de desenvolvimento humano elevados, esses países detêm uma parcela significativa da área agrícola global, porém apenas 3,5% da população mundial. O estudo destaca a insuficiência do modelo do agronegócio na produção e distribuição de alimentos e aponta para a necessidade de mudanças urgentes.
Um dos organizadores do Atlas, Jorge Pereira Filho, ressalta que o sistema alimentar vigente prioriza a fome ou o consumo de alimentos ultraprocessados para os mais pobres, contribuindo para a crise climática e a militarização. Enquanto o Cone Sul se destaca como uma região produtora excedente, milhões de pessoas enfrentam a escassez alimentar, refletindo a priorização dos grandes produtores pecuaristas em exportações em detrimento do abastecimento interno.
Além disso, o crescimento das exportações ao longo das décadas não se traduziu em empregos no campo, resultando em um êxodo para a periferia urbana e impactos como a degradação ambiental e a expulsão de comunidades tradicionais. A insegurança alimentar surge como mais uma manifestação das desigualdades sociais, indicando a necessidade de políticas públicas que priorizem a produção de alimentos saudáveis e a agricultura familiar.
O Atlas dos Sistemas Alimentares do Cone Sul propõe soluções como a união de forças sociais para defender os territórios, construir a soberania alimentar e promover um país mais justo e democrático. A pesquisa destaca a importância de um novo modelo para o campo que garanta o acesso dos grupos mais vulneráveis aos recursos básicos e enfatiza que sem essas mudanças, a soberania alimentar continuará sendo um objetivo distante para a região.