Acordo Mercosul-União Europeia: Impactos e Críticas no Campo Sul-Americano
Uma recente análise sobre os potenciais impactos do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia revelou que, para um país pequeno como o Paraguai, os efeitos podem ser consideráveis. Com o Paraguai se tornando o terceiro maior exportador de soja do mundo em 2021 e dedicando 80% de suas terras à produção da commodity, os resultados para a economia do país podem parecer vantajosos em termos macroeconômicos. No entanto, a realidade é que o retorno dessas exportações é pequeno em comparação com os lucros massivos que as empresas recebem, levando divisas para fora do país.
De acordo com a Oxfam, nos últimos 10 anos, mais de 900 mil camponeses paraguaios foram forçados a abandonar suas terras devido à concentração do agronegócio, resultando em escassez de empregos e terras para trabalhar. A situação é vista como um estímulo para uma “agricultura sem camponeses”, agravando a marginalização dos pequenos produtores e ferindo seus direitos culturais e econômicos.
Com o Uruguai, um dos países mais afetados pelo acordo devido à sua principal fonte de divisas ser a exportação agropecuária, a situação não é diferente. A expansão do cultivo de soja e eucaliptos tem sido prejudicial para a soberania alimentar do país, resultando em migração em massa do campo para a cidade, impulsionada pelo agronegócio.
Comparação com a Alca
Críticos do projeto têm comparado o acordo Mercosul-União Europeia com a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), ressaltando semelhanças e diferenças entre os momentos históricos. Enquanto a Alca representava a estratégia política dos EUA para subordinar todo o continente, o acordo atual tem a União Europeia como protagonista e reflete a estratégia das empresas transnacionais de avançar sobre o mercado de alimentos.
Para os movimentos de luta no campo do Mercosul, o acordo com os europeus é visto como um desafio para a necessidade de políticas públicas que fortaleçam o setor, gerem empregos e produzam alimentos saudáveis para a população. A crítica central é que o princípio de romper barreiras para as mercadorias não considera os custos sociais e culturais desse processo.
Em suma, o acordo Mercosul-União Europeia desperta preocupações no campo sul-americano, já que os impactos negativos para os pequenos produtores e a soberania alimentar são evidentes e representam um desafio para a sustentabilidade e a equidade no continente.