Amarílis Costa *
Desde a Revolução Industrial, as mulheres passaram a compartilhar as linhas de produção com os homens, enfrentando jornadas exaustivas de até 16 horas diárias. Esse cenário marcou o início de um ciclo em que as mulheres ganhavam menos, enquanto ainda assumiam as responsabilidades domésticas. A subvalorização, o acúmulo de funções e o assédio moral e sexual tornaram-se parte da realidade feminina no mercado de trabalho.
No século 19, as mulheres começaram a se organizar para reivindicar melhores condições de trabalho, direito ao voto e participação política. No entanto, as mulheres negras enfrentavam uma batalha ainda mais antiga e severa, lutando por dignidade e pelo reconhecimento de sua humanidade.
Sojourner Truth, abolicionista e ativista pelos direitos das mulheres, em seu discurso de 1851 na Convenção dos Direitos das Mulheres de Ohio, questionou a exclusão das mulheres negras e sua condição de igualdade. Ela evidenciou as desigualdades sofridas pelas mulheres negras, que foram tratadas como objetos ou animais ao longo dos séculos, principalmente no Brasil, último país do mundo a abolir oficialmente o trabalho escravo.
De acordo com a ONU, a disparidade salarial entre homens e mulheres persiste globalmente, chegando a 16%. No Brasil, o IBGE aponta que as mulheres recebem 20% a menos que os homens em cargos equivalentes, sendo que o salário de uma mulher negra equivale a apenas 46% do salário de um homem branco.
Lélia Gonzalez, importante filósofa e ativista do movimento negro no Brasil, destacou que as mulheres negras são o foco das desigualdades sociais e sexuais no país. Ela ressaltou a complexidade das desigualdades enfrentadas pelas mulheres negras, que também lidam com questões de classe.
O desafio da igualdade salarial é uma realidade a ser enfrentada com seriedade. A Oxfam Brasil estima o impacto econômico do trabalho não remunerado das mulheres globalmente, revelando a magnitude do problema das desigualdades de gênero.
A Rede Liberdade destaca a importância da atuação judicial para garantir a equidade no trabalho, combatendo práticas abusivas e promovendo a diversidade de gênero, raça e etnia nas relações laborais.
No Dia Internacional da Mulher, é crucial dar voz às mulheres que continuam enfrentando desigualdades históricas. O movimento feminista reconhece a interseccionalidade das lutas e a necessidade de inclusão de todas as vozes oprimidas.
Sueli Carneiro, Fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, enfatiza o papel das mulheres negras como vanguarda das lutas sociais e feministas no Brasil, questionando até quando persistirá a exclusão e a desigualdade.
* Advogada, doutoranda em Direitos Humanos na Faculdade de Direito USP, mestra em Ciências Humanas, pesquisadora do GEPPIS-EACH-USP.
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