Segundo dados publicados pelo Ipea e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Norte do Brasil é a única entre as cinco regiões a contrariar a tendência de queda de assassinatos que se estabeleceu desde o fim de 2017 no país. A taxa de 34,7 homicídios a cada 100 mil habitantes subiu em 2021 na comparação com 2020, enquanto todas as outras regiões registraram reduções.
Os dados mostram que a violência na região se aproxima da taxa do Nordeste, que registrou, naquele ano, 36,5 homicídios a cada 100 mil habitantes. O aumento pode estar relacionado à expansão de atividades criminosas e à disputa entre facções de tráfico de drogas. Além disso, a região ainda não passou pela mesma transição demográfica de outras regiões, o que pode contribuir para o aumento da violência.
O Atlas da Violência 2023 revela que, além do Norte e Nordeste, a terceira região com a taxa mais alta de homicídios em 2021 era o Centro-Oeste, com 21,9 mortos por 100 mil habitantes. O índice da média nacional ficou em 22,4, e os de Sul e Sudeste, em 16,3 e 13, respectivamente.
Os dados utilizados na publicação são coletados no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinam), do Ministério da Saúde, que contabiliza como homicídios as mortes causadas por agressões e aquelas por intervenção legal.
Uma das possíveis causas para o aumento da violência na região é a disputa entre as duas maiores facções do país, PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (Comando Vermelho), que frequentemente são apontadas como responsáveis pelo pico de homicídios registrado em 2017. Segundo o Atlas, um suposto armistício teria levado a diminuições de homicídios a partir de 2018, mas a tendência foi interrompida entre 2019 e 2020 no Sudeste, com leve alta, e no Nordeste, voltando a cair de 2020 a 2021.
Além da disputa entre facções, a violência na Amazônia também envolve terrenos de garimpo e comércio ilegal de madeira, o que mostra a amplitude das atividades criminosas na região.
O coordenador do Atlas, Daniel Cerqueira, aponta que as variações nos índices de violência nos últimos anos também podem ser explicadas pelo fator demográfico. O Norte é a região que concentra municípios com proporcionalmente mais jovens, o que, segundo dados do Censo Demográfico 2022 do IBGE, pode resultar em maior incidência de violência. Além disso, Cerqueira destaca a necessidade de formas diferentes de fazer política de segurança, citando programas desenvolvidos por alguns estados, como o Fica Vivo! de Minas Gerais, o Pacto Pela Vida em Pernambuco e o Paraíba Unida Pela Paz.
Esses programas, em geral, são desenvolvidos pelos governos estaduais em conjunto com o Judiciário e a sociedade e combinam ações de enfrentamento com prevenção, incluindo fóruns comunitários e a promoção de atividades de educação e inclusão produtiva.
Apesar das diferenças de facções e questões demográficas, alguns estados estão buscando maneiras inovadoras de promover a segurança pública e reduzir os índices de violência.