Especialistas alertam sobre perigos de premiar policiais por apreensão de fuzis, no Rio de Janeiro.

Decisão de recompensar policiais por apreensão de fuzis é vista com ressalvas por especialistas em segurança pública. O governo do Rio de Janeiro publicou um decreto nesta segunda-feira (21) estabelecendo que os policiais civis e militares receberão uma gratificação de R$ 5 mil por cada arma retirada de criminosos. No entanto, apesar das opiniões divergentes, a medida foi considerada positiva por alguns especialistas.

Para o antropólogo Paulo Storani, capitão veterano do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMERJ), essa nova política é uma gratificação por resultado que motiva os policiais a correrem riscos diariamente. Storani, que foi consultor do filme “Tropa de Elite”, acredita que o decreto corrige erros do passado, onde os fuzis apreendidos eram apresentados de forma fracionada para obter pagamentos diferenciados.

Por outro lado, o ex-comandante-geral da PMERJ, coronel Ubiratan Ângelo, vê pontos positivos e preocupações na nova política. Ele considera que o governo está priorizando o combate ao armamento de guerra, que é o que realmente causa mortes imediatas, ao invés das drogas. No entanto, ele ressalta a importância de evitar que essas armas pesadas cheguem às favelas e acredita que a estratégia do governo deve ser acompanhada de ações para combater o tráfico de munição.

Além disso, há preocupações em relação à corrupção policial e ao mercado ilegal de armas. O Viva Rio, ONG especializada em segurança pública, aponta que no passado ocorreram casos de corrupção de agentes envolvendo a venda de armas ilegais para criminosos. O ex-comandante Ângelo acredita que um possível reflexo dessa nova política pode ser o aumento do valor do fuzil no comércio ilegal. Além disso, há a preocupação de que essa gratificação gere uma diferenciação entre os policiais, de acordo com as funções desempenhadas.

Jacqueline Muniz, antropóloga e gestora pública, critica a decisão de recompensar apenas a apreensão de fuzis, considerando isso como um erro que alimenta o mercado criminoso de armas. Ela ressalta que outros policiais, que atendem a demanda da população, ficam de fora dessa competição por mais fuzis. Muniz defende a implementação de um programa sério de avaliação de desempenho policial, que leve em consideração o trabalho feito pelos policiais antes, durante e após as ocorrências.

Em suma, a medida de recompensar policiais por apreensão de fuzis recebeu opiniões divergentes por parte dos especialistas. Enquanto alguns acreditam que possa estimular os policiais a enfrentar os riscos diários, outros temem que possa aumentar a corrupção policial e fortalecer o mercado ilegal de armas. A implementação de um programa de avaliação de desempenho policial que considere as diversas atividades realizadas pelos agentes pode ser uma alternativa mais abrangente e eficaz.

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