Polícia Militar absolvida em julgamento, suspeitos de assassinato e tentativa de ataque ao quartel da Rota são inocentados.

A Justiça de São Paulo absolveu na noite desta quinta-feira (24) dois policiais militares suspeitos de matar um dependente químico com um tiro pelas costas em agosto de 2010. Eles também foram acusados de simular um atentado contra o quartel da Rota, tropa de elite da PM, na avenida Tiradentes, na zona central da capital.

A absolvição dos PMs Jorge Inocênio Brunetto e Sidney João do Nascimento atendeu ao pedido do Ministério Público, que tinha dúvidas sobre se o crime havia sido um assassinato. Além disso, os advogados dos policiais alegaram legítima defesa.

De acordo com a versão oficial, aceita pela maioria dos jurados, o ex-detento Frank Ligieri Sons decidiu atacar o prédio da Rota sozinho, durante a madrugada, atirando contra o quartel miliciano. No entanto, três policiais apareceram e o suspeito teria tentado atirar contra eles, mas acabou sendo baleado nas costas, na barriga e morreu.

Meses após o crime, a Folha teve acesso a um relatório de inteligência do governo paulista que levantou suspeitas de fraude no caso. O documento afirmava que o ataque ao quartel poderia ter sido uma forma de desviar a atenção das investigações contra integrantes da Rota por suspeitas de assassinatos e envolvimento com quadrilhas de roubo de cargas.

No entanto, as dúvidas sobre os laudos e a investigação não puderam ser esclarecidas durante o julgamento, pois o promotor decidiu liberá-las sem consultar a assistência de acusação. A família da vítima sustentou o pedido de acusação aos jurados, reforçando os pontos do processo que apontavam para uma suposta farsa.

Após o julgamento, a viúva do suspeito morto expressou sua gratidão à advogada que tentou reverter a situação criada pela Promotoria. A família sempre sustentou a suposta participação do irmão de Sons no crime, mas ele sempre negou.

A realização do julgamento só foi possível devido aos recursos apresentados pela Promotoria e assistência de acusação. Em 2019, os PMs tinham sido absolvidos sumariamente pela juíza Débora Faitarone, que defendeu os policiais suspeitos e criticou a sociedade por duvidar da palavra de um PM. Essa decisão foi reformada em 2020 pelo Tribunal de Justiça.

O desembargador Osni Pereira, relator do processo, afirmou que a versão apresentada pelos policiais não condizia com os laudos periciais e a reprodução simulada dos fatos. Ele argumentou que a competência para acolher a tese da legítima defesa era do Conselho de Sentença e não do magistrado.

Após o julgamento, a Folha tentou contatar o promotor Bruno Fernandes Barp para obter mais informações, mas ele não deu declarações. A decisão de liberar as testemunhas sem consultar a assistência de acusação também gerou questionamentos. O promotor assumiu o caso dois dias antes do julgamento.

A família da vítima afirmou que vai recorrer da decisão, alegando que não houve legítima defesa, mas sim uma execução. Para eles, as provas nos autos não sustentam a versão dos PMs.

Apesar da absolvição dos policiais, o caso continua levantando dúvidas sobre a atuação da Justiça e a veracidade dos fatos. A esperança da família da vítima é que a verdade seja revelada e que a justiça seja feita.

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