Povos indígenas denunciam falta de transparência e interferência de ONGs na Amazônia

Lideranças indígenas e especialistas têm levantado críticas e questionamentos em relação à atuação de ONGs na Amazônia. As denúncias, que são variadas, vão desde a falta de transparência na gestão dos recursos arrecadados até a interferência indevida na demarcação de terras indígenas.

No dia 27 de junho, Alberto Brazão Goes, líder do povo ianomâmi, criticou o Instituto Socioambiental (ISA), alegando que a ONG não dá transparência aos indígenas sobre os recursos arrecadados com a venda de cogumelo ianomâmi no exterior. Segundo ele, o valor do cogumelo no mercado estrangeiro é alto, chegando a 7 euros por grama, mas os indígenas não têm conhecimento de quanto recebem por isso.

Valdeci Baniwa, indígena da etnia baniwa, também fez críticas ao ISA, acusando a organização de “engavetar” as reivindicações das comunidades indígenas, impedindo que esses pleitos cheguem ao poder público.

Adriel Kokama, liderança indígena da região do Médio Solimões, questionou a restrição ao exercício de atividades econômicas e extrativistas nas terras indígenas. Ele destacou a importância dessas atividades para a subsistência das comunidades e defendeu o direito dos indígenas de exercê-las.

No dia 4 de julho, Miguel dos Santos Correa, cacique da aldeia de Bragança, no Pará, fez críticas à Cooperativa Mista da Floresta Nacional do Tapajós (Coomflona), alegando que os indígenas recebem apenas R$ 3 por dia para a colheita de sementes, enquanto grandes empresas de cosméticos pagariam valores mais elevados. Ele também afirmou que a ONG foi criada com recursos de órgãos governamentais alemães.

Marcelo Norkey Duarte Pereira, conselheiro da área de proteção ambiental Triunfo do Xingu, criticou a qualidade dos estudos técnico-científicos elaborados pelo ISA em contrato com o governo federal para viabilizar sete unidades de conservação na floresta amazônica.

Luciene Kujãesage Kayabi, representante da etnia caiabi, questionou a eficácia da atuação das ONGs na proteção dos direitos dos povos indígenas. Para ela, as ONGs usam de persuasão para manipular os indígenas e não estão realmente interessadas em garantir seus direitos.

No dia 11 de julho, Aldo Rebelo, ex-deputado federal e ex-ministro, afirmou que as ONGs que atuam na região Norte são “estados paralelos ao governo brasileiro” e ameaçam a soberania e o desenvolvimento da Amazônia. Segundo ele, é necessário rever leis e normas que transformaram parte da Amazônia em um “protetorado informal” dessas organizações.

No dia 1º de agosto, a deputada federal Sílvia Waiãpi acusou o Instituto Iepé de impedir o acesso da etnia waiãpi à energia elétrica e de atrapalhar seu desenvolvimento. Ela entregou documentos à CPI que comprovam o financiamento da ONG por governos estrangeiros, como Noruega e França.

No dia 8 de agosto, o jornalista Lorenzo Carrasco apresentou exemplos históricos de interferência de outros governos no Brasil. Ele afirmou que a embaixada canadense teria dado apoio logístico para interferir no capítulo de meio ambiente na Constituição Federal de 1988 e citou o ex-primeiro-ministro da França, Michel Rocard, que teria ideias sobre uma soberania compartilhada sobre a Amazônia.

Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente, denunciou uma prática em que poucas pessoas alternariam cargos em ONGs, órgãos ambientais do governo e universidades para produzir uma “narrativa contra qualquer tipo de utilização racional dos recursos da Amazônia”. Ele também criticou nações participantes do Acordo de Paris por não cumprirem os valores combinados para a preservação ambiental no Brasil.

No dia 22 de agosto, Helderli Fideliz Castro de Sá Leão Alves, presidente do Movimento Pardo-Mestiço Brasileiro, acusou o IBGE de enviesar o último censo, afirmando que os recenseadores estimularam os mestiços a se identificarem como indígenas. No entanto, o IBGE nega essas acusações.

No dia 29 de setembro, o antropólogo Edward Luz denunciou a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), acusando-a de se comprometer com uma “indústria” de laudos para demarcação de territórios indígenas de forma não representativa. Ele ainda acusou o ex-presidente da Funai, Márcio Meira, de ser “agente” do ISA.

No dia 31 de agosto, os senadores Plínio Valério, Márcio Bittar e Chico Rodrigues realizaram uma diligência na comunidade Piri-Cachoeira e ouviram várias etnias. O objetivo foi analisar de perto a situação das comunidades indígenas na região.

No dia 5 de setembro, o professor Luiz Carlos Molion defendeu que a Amazônia não é a maior causadora das variações climáticas intensas nem a maior fonte de umidade do mundo. Ele classificou o mercado de carbono como “uma solução para um problema que não existe” e afirmou que, com o desmatamento nos níveis atuais, seria impossível chegar a um ponto sem volta na destruição da floresta.

No dia 12 de setembro, Virgílio Viana, superintendente-geral da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), afirmou que a ONG instalou centenas de estruturas de rádio e internet, investiu em energia solar e no ecoturismo nas regiões em que atua. Segundo ele, a FAS aumentou a renda per capita em 11 regiões amazônicas e a maior parte dos recursos arrecadados é utilizada diretamente em projetos de sustentabilidade econômica.

No dia 19 de setembro, Ritaumaria Pereira, diretora-executiva do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), assegurou que os financiadores estrangeiros da ONG não condicionam os recursos a demandas específicas. Ela também defendeu a prática de ex-funcionários de ONGs prestarem consultorias à organização por valores superiores ao antigo salário, uma prática criticada por parlamentares.

No dia 26 de setembro, Ana Amelia Campos Toni, secretária nacional de mudança do clima do Ministério do Meio Ambiente, negou que tenha sido convidada ao cargo por ser membro do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Segundo ela, governos, organizações de sociedade civil e empresas devem funcionar de modo complementar para garantir a sustentabilidade da região.

No dia 3 de outubro, Eduardo Ditt, diretor do Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê), defendeu que regiões do Rio Negro não precisam da construção de estradas para a exploração do ecoturismo. Ele ainda afirmou que o Ipê favorece diretamente 44 negócios comunitários sustentáveis e beneficia 2,6 mil pessoas através de financiamentos estrangeiros.

No dia 10 de outubro, Marta de Oliveira Antunes, tecnologista do IBGE, negou que recenseadores tenham sido orientados a distorcer o questionário para aumentar o registro de indígenas no Censo de 2022. Segundo ela, o aumento da população indígena registrado se deve a melhorias na metodologia do órgão e à

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