Presidente do STF reforça a importância dos tribunais constitucionais e diz que desagradar é inevitável

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, afirmou hoje na Câmara dos Deputados que as decisões do tribunal inevitavelmente desagradam alguém. Ele destacou que em todos os países democráticos existe tensão entre os Poderes, mas é dever dos tribunais constitucionais impor limites ao poder político majoritário. Barroso participou do 2º Colóquio Franco-Brasileiro de Direito Constitucional, realizado hoje.

Barroso ressaltou que em diversos países há questionamentos sobre a legitimidade democrática dos tribunais constitucionais, já que os presidentes e parlamentares são eleitos, enquanto os juízes não são. No entanto, ele ressaltou que a democracia não se resume apenas ao processo eleitoral e às maiorias políticas. A democracia também implica o respeito às regras do jogo, conhecido como Estado de Direito, e aos direitos fundamentais. Por isso, os tribunais constitucionais existem para estabelecer limites ao poder das maiorias políticas.

O Brasil tem duas peculiaridades em relação a outros países democráticos, segundo Barroso. A primeira é a abrangência da Constituição brasileira e o grande número de entidades que podem questionar a constitucionalidade de questões. O ministro exemplificou que o STF julga desde interrupção de gestação de feto anencéfalo até importação de pneus.

A segunda peculiaridade é que os julgamentos do STF são transmitidos pela televisão, o que faz com que sempre haja alguém desagradado com as decisões da corte. Barroso afirmou que o prestígio e a importância de um tribunal não podem ser avaliados por pesquisas de opinião pública. Segundo ele, o STF tem cumprido um papel importante no Brasil, especialmente durante a pandemia, na proteção das instituições democráticas.

Dominique Rousseau, professor da Universidade Sorbonne em Paris e integrante do Tribunal Constitucional de Andorra, reafirmou a importância do controle constitucional para a democracia. Ele destacou que a justiça constitucional é necessária para proteger os direitos fundamentais e permitir que os cidadãos tenham um instrumento de controle sobre o trabalho dos parlamentares eleitos.

O deputado Alex Manente (Cidadania-SP) defendeu o aprimoramento dos controles de constitucionalidade do STF por meio do projeto de lei 3640/23, que trata do julgamento de ações de controle concentrado de constitucionalidade no tribunal. Manente propõe a redução do número de entidades que podem propor essas ações, alegando que o STF atualmente trata de todos os temas por ser uma instância recursal.

A deputada Maria do Rosário (PT-RS) ressaltou a importância do direito constitucional para o Estado democrático de direito. Ela destacou que é preciso uma cultura de apego ao texto constitucional para tornar a Constituição uma prática real no país.

O 2º Colóquio Franco-Brasileiro de Direito Constitucional promoveu um intercâmbio intelectual entre Brasil e França. O evento foi organizado pela Associação dos Consultores Legislativos e de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados (Aslegis), pela Embaixada da França no Brasil e pela Câmara dos Deputados. A primeira edição do colóquio ocorreu em 2019.

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