Disputa violenta pela liderança de reserva indígena gera tensão na Terra Indígena Cacique Doble, em mais um capítulo de confrontos.

Nos próximos dias 10 e 11, o Ministério dos Povos Indígenas e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) irão realizar uma consulta à comunidade guarani e kaingang da Terra Indígena Cacique Doble. A área, localizada na cidade gaúcha de mesmo nome, no noroeste do Rio Grande do Sul, tem sido palco de uma violenta disputa entre grupos indígenas rivais que brigam pela liderança da reserva.

A reserva possui cerca de 815 indígenas e abrange 4,4 mil hectares, tendo sido homologada em 1991 como área da União de usufruto exclusivo indígena. Cada hectare equivale aproximadamente às medidas de um campo de futebol oficial. A consulta tem o objetivo de discutir a questão da representação democrática da comunidade. No entanto, a área tem sido alvo de grupos organizados que arrendam terras ilegalmente e que são suspeitos de ligações com atividades criminosas, conforme afirmou o advogado e membro do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Roberto Liebgott.

A disputa na reserva tem se intensificado nos últimos tempos e causou ao menos duas mortes, além de alterar a rotina do município. Um tiroteio recente resultou na morte de uma menina de 13 anos, com outras duas pessoas baleadas e hospitalizadas. A situação tornou-se tão crítica que os bombeiros voluntários alegaram não ter segurança para ingressar na área e combater as chamas de incêndios que atingiram mais de uma dezena de casas na reserva.

Os confrontos também têm afetado a rotina da cidade em si, com eventos públicos sendo suspensos e escolas tendo que reprogramar suas atividades. Além disso, a disputa pela liderança da terra indígena está associada a outras ilegalidades, como a formação de milícias privadas; tráfico de drogas e contrabando de armas, sementes agrícolas e agrotóxicos.

Diante desse cenário, o Ministério da Justiça e Segurança Pública informou que o efetivo da Força Nacional de Segurança Pública permanecerá no município por mais 90 dias, a pedido do governo estadual, para apoiar eventuais ações da Polícia Federal a fim de preservar a ordem pública. A situação exige uma intervenção duradoura para criar um ambiente de apaziguamento e promover um debate entre os indígenas a respeito do uso da terra e das estruturas de poder interno.

A Agência Brasil entrou em contato com a prefeitura de Cacique Doble e aguarda retorno. A reportagem também está à espera de posicionamento do governo do Rio Grande do Sul. O caso está em curso e novos desdobramentos são aguardados.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo