A ascensão da política da frente popular e a criação da Aliança Nacional Libertadora (ANL) em 1935








ANL – A ascensão e queda da Aliança Nacional Libertadora

ANL – A ascensão e queda da Aliança Nacional Libertadora

Considerando essa conjuntura interna, e um cenário internacional marcado pela ascensão do nazifascismo e a política da IC de frente popular, alguns setores do movimento tenentista cada vez mais descontentes com o varguismo e diversos intelectuais democratas estimulam a criação da Aliança Nacional Libertadora (ANL), no final de 1934. Embora, de início, dentro do próprio PCB houvesse resistência à ANL e um medo de que o partido se dissolvesse na frente, ao longo de 1935, o PCB abraça a construção da ANL como central na sua política com vistas à edificação de uma frente nacional antifascista, anti-imperialista e anti-feudal. 

O estatuto da ANL foi aprovado em 12 de março de 1935 e dizia que a frente era “uma associação constituída de aderentes individuais e coletivos, com o fim de defender a liberdade e a Emancipação Nacional e Social do Brasil”. O lançamento oficial da ANL aconteceu num grande comício realizado no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, e Prestes, sob grande aclamação, foi eleito presidente de honra da ANL.

Apenas dois meses após a fundação, a ANL já tinha 1.600 organizações de base pelo Brasil, funcionava em 17 estados e mobilizava milhares de pessoas. No lado oposto, a Ação Integralista Brasileira dirigida por Plínio Salgado (1895-1975), também estava fortemente organizada, mobilizando outras milhares de pessoas, gozando de simpatias e apoios em alguns setores da classe dominante, camadas médias, Forças Armadas e classes populares. 

Em paralelo ao fechamento do regime varguista, prossegue o crescimento das cidades e dos operários no conjunto da população brasileira e dos setores industriais. No final de 1945, quando Vargas é derrubado por um golpe militar expressando contradições internas do projeto no governo e no clima do fortalecimento das forças democráticas no contexto de resistência antifascista mundial, o Brasil era um país mais urbano-industrial, com maior complexidade na sua estrutura de classes, ampliação das camadas médias e crescimento quantitativo do proletariado. 

Com a derrubada do governo Vargas, começa um breve período de democracia burguesa no Brasil e o PCB aparece como um grande partido de massas. Mesmo com toda repressão, a memória das ações de massa da BOC e especialmente da ANL não foram apagadas. Aliado a isso, o próprio desenvolvimento capitalista dependente aumentou a base de massas potencial para a mensagem dos comunistas. 

Na eleição geral de 2 de dezembro de 1945, o PCB, pela primeira vez na história, apresenta-se para um processo eleitoral com sua cara própria, sem ser escudado em alguma frente mais ampla. O candidato à presidência do PCB, Yedo Fiúza, teve quase 600 mil votos (10% dos votos), foram eleitos 14 deputados federais e Luís Carlos Prestes se tornou o senador mais votado da história do país (naquele momento histórico), com 160 mil votos. O PCB ainda conseguiu filiar 2% do eleitorado brasileiro.

Esse período de legalidade para os comunistas durou pouco. Em 7 de maio de 1947, depois do PCB tocar uma forte batalha judicial e popular em defesa da sua legalidade, o partido é posto na ilegalidade, seus militantes tem seus cargos cassados e é desatada mais uma onda de repressão aos comunistas. A despeito de toda essa repressão, na entrada dos anos 50, o PCB, como maior expressão organizativa da classe trabalhadora no Brasil, já tinha anos de acúmulo político, passado por diversas formas de atuação de massa, a experiência de tentativa de tomar o poder e de tornar-se um partido de massas de dimensão nacional com presença em praticamente todos os centros urbanos do país, vastas áreas rurais e formando quadros políticos nos mais diversos setores da sociedade. 

O IV Congresso do PCB, realizado em 1954, marca a tentativa do partido de sintetizar toda sua experiência histórica e expor, pela primeira vez, uma robusta análise com pretensões totalizadoras do Brasil – em suma, o PCB, forma sua imagem do Brasil e os fundamentos teóricos precisos da estratégia democrático-nacional.

A análise desse momento fundamental na afirmação da estratégia democrático-nacional e de alguns dos seus principais intelectuais formadores, assim como a atuação político-prática da classe trabalhadora, será o objeto de atenção da próxima parte deste ensaio.


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