Essa fragmentação foi ainda mais evidente na forma como as crianças eram batizadas. Segundo o historiador britânico Peter Heather, a fórmula usada para o batismo podia se deteriorar devido à falta de aulas de latim. Um exemplo disso foi encontrado pelo missionário anglo-saxão Bonifácio (675-754 d.C.), que deixou a Inglaterra para ajudar na evangelização da população europeia.
Durante sua missão, Bonifácio descobriu que um sacerdote cristão na Baviera, região sul da Alemanha, estava batizando seus seguidores com a frase “In nomine Patria et filia” (que significa “em nome da Pátria e da filha”), ao invés da forma correta, que seria “In nomine patris et filii” (que significa “em nome do Pai e do Filho”). Esse equívoco linguístico demonstra a deterioração geral das práticas religiosas em decorrência da falta de conhecimento da língua latina.
Para sua surpresa, quando Bonifácio questionou o papa sobre essa prática estranha, foi informado de que esses batismos continuavam sendo válidos, mesmo diante do absurdo linguístico. Isso evidencia a tolerância da Igreja diante das adaptações e erros decorrentes desse período de fragmentação e dificuldades educacionais.
Esses eventos revelam a complexidade e os desafios enfrentados pelo cristianismo na Europa nos primeiros séculos pós-império. Além disso, eles desmistificam a ideia do domínio absoluto do papado sobre a Igreja ocidental e mostram a influência de fatores sociais e políticos na religião.
Portanto, a história do cristianismo na Europa é marcada por essa lenta mas constante onda de fragmentação das práticas religiosas, levando a situações peculiares como o batismo com frases incorretas. O legado desse período é uma Igreja ocidental que se adaptou e sobreviveu em meio às dificuldades e transformações da época.
[Fonte: Site não citado]