Ações na cracolândia não resolvem problema das drogas, apontam paulistanos em pesquisa Datafolha

Uma pesquisa recente do Datafolha revelou que as ações implementadas pela prefeitura e pelo governo do estado para combater a cracolândia, região conhecida pelo abuso de drogas no centro de São Paulo, não são eficientes aos olhos de 68% dos moradores da capital paulista. Entre os entrevistados, apenas 4% acreditam que as operações terão algum tipo de resultado a curto prazo.

O levantamento, realizado nos dias 29 e 30 de março, entrevistou 1.092 pessoas e possui uma margem de erro de três pontos percentuais para mais ou menos. Os resultados mostram um crescente ceticismo em relação à efetividade das incursões policiais no combate ao uso de drogas. De acordo com a maioria dos paulistanos (87%), a cada operação os usuários simplesmente procuram outras áreas da cidade para consumir crack.

Além disso, pesquisas do Datafolha realizadas ao longo dos últimos dez anos também indicam uma diminuição na aderência à ideia de que as ações na cracolândia são eficazes para convencer os usuários a buscar tratamento médico. Em janeiro de 2012, 58% dos entrevistados concordavam com essa relação, enquanto na pesquisa mais recente esse número caiu para 44%.

O estudo também revelou que os grupos mais céticos em relação às operações na cracolândia são: pessoas entre 35 e 44 anos (74% acreditam que as ações não resolvem o problema); indivíduos com ensino superior completo (76%); aqueles com renda superior a dez salários mínimos (83%); residentes da zona oeste (80%) e do centro (74%).

Quanto à preferência política, 77% dos eleitores de Guilherme Boulos (PSOL) consideram as operações ineficientes, enquanto essa taxa cai para 55% entre os eleitores do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Boulos lidera a disputa eleitoral com 32% das intenções de voto, seguido pelo atual mandatário com 24%, de acordo com a última pesquisa divulgada pelo Datafolha.

A pesquisa também mostrou que a maioria dos entrevistados (82%) tem conhecimento sobre as operações na cracolândia, porém menos da metade (32%) se considera bem informada sobre o assunto. Aqueles que afirmam estar mais ou menos informados compõem 40% do total, enquanto apenas 10% disseram estar mal informados.

A opinião dos paulistanos em relação à cracolândia como um problema de segurança pública também apresentou uma queda de 7 pontos percentuais ao longo dos últimos dez anos. Atualmente, 68% dos entrevistados consideram a questão um problema de segurança pública, enquanto 75% a veem como uma questão de saúde pública.

Apesar disso, a maioria dos entrevistados (61%) acredita que o apoio da família é mais importante do que a ajuda governamental e de ONGs para abandonar o vício em crack. Adicionalmente, 63% concordam que é necessário mais força de vontade do que tratamento médico para combater o vício, embora essa opinião tenha apresentado uma tendência de queda nos últimos dez anos.

A pesquisa também revelou uma queda no número de pessoas que acreditam que “pessoas boas não se envolvem com drogas como o crack”. Em 2021, apenas 33% concordam com essa afirmação, uma queda de 10 pontos percentuais em relação à pesquisa de 2017.

É importante ressaltar que a cracolândia, que por mais de 30 anos esteve concentrada em duas ruas próximas à praça Júlio Prestes, se expandiu para diferentes áreas do centro de São Paulo nos últimos anos. Essa mudança afetou a vida dos moradores da região, com aumento do tráfico e abuso de drogas próximos de suas residências, além de causar uma queda de 27% no preço dos imóveis na área.

De acordo com a pesquisa, os principais responsáveis pela cracolândia são os próprios traficantes (30%) e os usuários de drogas (29%), mantendo uma opinião relativamente estável desde 2012. O governo estadual e a prefeitura foram responsabilizados por 14% e 6% dos entrevistados, respectivamente.

A sensação de presenciar cenas de uso de drogas em público é comum para a maioria dos entrevistados (53%), que afirmam ter cracolândias em seus bairros. Essa percepção é mais frequente entre os habitantes da zona leste (61%), seguidos pelos residentes do centro (59%) e da zona sul (50%). Moradores dos bairros das zonas norte (48%) e oeste (46%) também compartilham dessa percepção.

Fica evidente, diante dos dados apresentados pela pesquisa Datafolha, que a população paulistana demonstra cada vez mais ceticismo em relação à eficácia das ações governamentais para resolver o problema da cracolândia, evidenciando a necessidade de políticas públicas mais efetivas e direcionadas para o combate ao abuso de drogas e à dependência química.

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