Adaptação ao clima: Vinícolas de Mendoza buscam alternativas para enfrentar as mudanças climáticas e preservar qualidade dos vinhos

Em frente a uma fileira sem fim de oliveiras, Gabriel Guardia, 50, lembra a imagem dos campos cobertos de neve. “Quando eu era menino, era impossível plantar em algumas áreas”, conta o enólogo, que hoje trocou o cobertor que usava naquela época pelo ar-condicionado na hora de dormir.

Gabriel cresceu em Mendoza, capital do vinho e do azeite argentinos, que, assim como ele, tem sentido as mudanças climáticas na pele. Situada sobre um deserto aos pés da Cordilheira dos Andes, a cidade já convive há tantos anos com a falta de água que nem chama mais sua situação de seca.

A região depende do degelo para encher os rios, inundar os reservatórios e abastecer a população e as plantações. Porém, as mudanças climáticas têm reduzido a quantidade de neve que deveria cair nas montanhas durante o inverno e derreter na primavera e no verão.

Para se adaptar, as vinícolas e olivícolas da região têm adiantado colheitas, plantado em áreas mais altas em busca de climas mais frescos e diversificado os tipos de uva. Também têm ampliado o sistema de irrigação por gotejadores e a impermeabilização de canais para evitar a perda de água.

A fenologia das plantas tem se adiantado nos últimos 30 anos. Enquanto antigamente a colheita terminava em maio, hoje já acaba em abril. Além disso, a mudança de altura atendeu a uma demanda do mercado por vinhos mais frescos e ácidos.

Porém, a redução da neve na região tem levado as vinícolas a seus limites. É necessário adotar medidas como a ampliação de poços para buscar água e o uso de técnicas de impermeabilização em canais.

A vinícola Bodeguer, por exemplo, adotou a técnica dos iglus para preservar as parreiras de geadas. Já a vinícola Rutini tem buscado a diversidade de plantações para se adaptar às mudanças climáticas.

Apesar da trégua proporcionada pelo fenômeno El Niño nos últimos meses, ainda não é suficiente para recuperar todos os anos de estresse hídrico. A seca e os eventos extremos agora serão uma constante na região de Mendoza.

Os produtores de vinho e azeite precisam entender a natureza como um todo e adotar medidas para preservar os recursos hídricos e se adaptar às mudanças climáticas. Caso contrário, a produção dessas bebidas tão apreciadas em todo o mundo pode ser comprometida.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo