Apagamento de mural icônico em São Paulo gera polêmica e debate sobre preservação da arte urbana




Artigo Sobre Apagamento de Mural em São Paulo

Moradores da região central de São Paulo surpreendidos com apagamento parcial de mural

Por Equipe de Jornalismo | Publicado em 28 de setembro de 2021

Moradores da região central de São Paulo foram surpreendidos nesta terça-feira (28) com o apagamento parcial da figura gigante da mulher de punho erguido e envolta na bandeira da cidade que se tornou símbolo recente do Carnaval de rua paulistano. O painel, chamado “A Cidade é Nossa”, fica na empena cega de 50 metros de altura num prédio da rua da Consolação, perto da praça Roosevelt.

O edifício no qual o mural foi feito pertence ao Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), que autorizou a obra. A faixa de tinta branca que apareceu sobre a lateral da pintura nesta terça foi aplicada com autorização da entidade. Em nota, o conselho disse que o imóvel é sua antiga sede e está passando por “reformas estruturais necessárias”.

Fundador do Baixo Augusta e ex-secretário de Cultura da gestão do tucano Bruno Covas (1980-2021), o gestor cultural Alê Youssef diz que o mural foi também uma resposta ao que ele classifica como uma política de apagamento da arte de rua colocada em prática no início da gestão de João Doria. Ainda em 2017, Doria mandou apagar grafites em muros da avenida 23 de Maio sob o argumento de que estavam deteriorados e pichados.

Além disso, uma decisão judicial chegou a determinar multa à gestão municipal por dano ao patrimônio cultural. Diante da repercussão negativa, Doria abandonou o embate contra grafiteiros e passou a discutir uma política de arte de rua que só ganhou fôlego na gestão Covas.

“É um emblema da cidade, tem múltiplos significados e representa a volta da arte urbana num momento em que ela estava na contramão”, diz Youssef. O gestor ainda destacou que o mural representa uma luta pelo direito à cidade, e foi um símbolo de resistência em um momento em que a arte de rua era ameaçada.

Covas, que era o vice de Doria, assumiu o comando da prefeitura após a renúncia do titular em 2018. Ele faleceu em maio de 2021, antes da inauguração oficial do parque Augusta —que foi renomeado para parque Prefeito Bruno Covas. Procurada, a gestão Nunes disse que o painel está em área particular e, portanto, não cabe à prefeitura interferir na decisão do proprietário.

Questionado sobre isso, o Cremesp não comentou se há motivação política para apagar o painel. O conselho afirmou que o “Cremesp liberou a pintura por um tempo determinado, e esse prazo expirou.” No entanto, Youssef discorda da afirmação, destacando que o projeto MAR (Museu de Arte na Rua) só surgiu anos depois da instalação do mural.

Wainer e Youssef também disseram à Folha que não foram procurados pelos proprietários do imóvel para discutir possibilidades de restauro. A artista destacou que o mural representa uma oposição à política em curso na época, simbolizando a força feminina e o protagonismo da mulher em todas as áreas.

Diante desse cenário, o apagamento do mural “A Cidade é Nossa” continua a gerar questionamentos e polêmicas sobre a preservação da arte de rua e a valorização do trabalho dos artistas urbanos na cidade de São Paulo.


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