Após décadas, uma aura misteriosa lentamente se dissipa, deixando para trás um rastro de incertezas e questionamentos.





O Palmeiras treinava numa tarde de quarta-feira de outubro de 1998, no pequeno estádio municipal de Barueri, mais tarde transformada na atual Arena Barueri. Felipão falava sobre a importância do encontro contra o Boca Juniors, no dia seguinte, pela fase de grupos da Copa Mercosul.

“Importante para nos prepararmos para o ano que vem. Na Libertadores podemos enfrentá-los outra vez.”

Informação errada.

Naquelas semanas de 1998, Felipão eliminou o Boca nas quartas de final da Mercosul, com vitória por 3 x 1 no Parque Antarctica e empate por 1 x 1 em Buenos Aires.

O adversário argentino vencido na semifinal do ano seguinte foi o River Plate. O Boca Juniors ainda não representava a mística de imbatível no continente, apesar dos dois títulos conquistados, em 1977 e 1978, sob o comando do treinador Juan Carlos Lorenzo.

O medo que acompanha as palavras Boca e La Bombonera veio depois de Carlos Bianchi. Três Libertadores conquistadas no intervalo de quatro temporadas, duas vencidas em confrontos com o Palmeiras. A final de 2000, contra Felipão, a semifinal de 2001, com Celso Roth no banco verde.

A mística daquele tempo nasceu de um período que pode ser igual ao do Palmeiras atual com Abel Ferreira, se alcançar três títulos em quatro disputas.

Depois do sexto título, o Boca Juniors chegou ao segundo lugar duas vezes e perdeu sete confrontos eliminatórios, que desmentem qualquer tipo de temor. Cair contra Fluminense (2008), Defensor (2009), Newell’s Old Boys (2013), Independiente del Valle (2016), Santos (2020), Atlético-MG (2021) e Corinthians (2022).

São mais desclassificações precoces ou surpreendentes, sete, do que taças, seis, desde a última conquista, contra o Grêmio, 16 anos atrás.

Mesmo assim, o pavor aparece toda vez que se imagina enfrentar a camiseta azul com “franja amarilla”. Sempre com a observação de que o Boca Juniors não é forte como no tempo de Carlos Bianchi, sempre com um receio que, há décadas, não existe quando se fala do Independiente, recordista de Libertadores, com sete, mas em jejum desde 1984.

O susto injustificável mostra-se nos celulares ligados nas arquibancadas do Allianz Parque, com parte da torcida secando o rival das semifinais. Assistiam ao jogo do Palmeiras no gramado e ao do Boca Juniors na segunda tela.

Apesar disso, é o Palmeiras que tenta ser para o Boca Juniors o que o Boca se tornou para o Independiente. O novo detentor da mística, que por pouco não foi do São Paulo da década de 1990 e persistiu por muito tempo depois dos títulos conquistados na era Telê Santana. O terceiro título consecutivo esbarrou em Chilavert, na finalíssima contra o Vélez, em 1994, depois do bi mundial contra Barcelona e Milan.

A mística se cria no imaginário coletivo e pode levar décadas para desaparecer. Muitas vezes, só cai com uma imagem que se escancare em frente ao mundo.

O Palmeiras tem a vantagem de manter sua base há três anos. Tem oito titulares do título de 2020 e o mesmo treinador. Mais do que o Boca Juniors fazia 20 temporadas atrás. Só três que foram campeões contra o Santos estavam na finalíssima contra o Palmeiras, três anos antes.

Hoje, os argentinos apostam em contratações pesadas, que mudam o perfil do time durante a campanha. Casos de Cavani, Janson e Saracchi, recém-contratados.

O duelo da mística contra a cabeça fria.

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