O governo federal se pronunciou oficialmente nesta sexta-feira (1º) acerca do ataque do exército de Israel contra civis que buscavam ajuda humanitária nos arredores da cidade de Gaza, na última quinta-feira. Em um comunicado divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE), foram expressadas duras críticas ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, pela forma como tem lidado com a crise humanitária, declarando que a ação militar contra a Palestina ultrapassou limites éticos e legais.
O episódio ocorreu a oeste de Gaza, onde um comboio de caminhões de ajuda humanitária supervisionado por unidades do exército israelense tentava entrar na cidade, que se encontra sob cerco militar. A população se reuniu ao redor dos veículos na esperança de obter alimentos e suprimentos.
As versões sobre o acontecimento divergem: o governo israelense alega que os militares presentes foram hostilizados por parte da multidão, respondendo com disparos que resultaram em dezenas de mortes, além de uma centena de feridos por pisoteio. Por outro lado, testemunhas palestinas e autoridades afirmam que os soldados dispararam intencionalmente contra os civis. O saldo trágico foi de 112 palestinos mortos e 760 feridos.
O Ministério das Relações Exteriores exigiu uma investigação minuciosa sobre o massacre e destacou o histórico de violações de direitos humanos atribuídas ao governo israelense. A nota oficial ressaltou que autoridades da ONU e especialistas já vinham denunciando a retenção de caminhões de ajuda nas fronteiras de Gaza e a crescente situação de fome e desespero entre a população civil.
A reação global ao acontecimento foi marcada por preocupação, culminando na deliberação do Conselho de Segurança da ONU na quinta-feira. Todos os países membros apoiaram uma moção que reconheceu a violação por parte dos militares israelenses, com exceção dos Estados Unidos, cujo presidente, Joe Biden, utilizou seu poder de veto. O governo brasileiro, em sua declaração, não mencionou diretamente os EUA, porém alertou sobre a influência de ações como o veto, que poderiam encorajar mais violações por parte do governo Netanyahu.
Além disso, o MRE não poupou críticas a Benjamin Netanyahu e suas declarações culpando os motoristas dos caminhões de ajuda humanitária pelo trágico episódio. O governo brasileiro classificou tais comentários como cínicos e ofensivos às vítimas, denunciando a falta de respeito pela vida humana.
A situação em Gaza teve início após uma série de ataques do grupo Hamas a cidades israelenses próximas à fronteira, resultando na morte de 1.200 civis e militares em outubro de 2023. A retaliação, por sua vez, causou um número muito maior de vítimas na Palestina, ultrapassando 30 mil mortos, sendo 12 mil deles crianças, e forçando o deslocamento de 1,7 milhão de palestinos.
O Brasil, como membro da Corte Internacional de Justiça, reforçou a necessidade de Israel seguir as medidas cautelares emitidas pela Corte para evitar atos de genocídio. A pressão internacional para um cessar-fogo e o acesso efetivo de ajuda humanitária a Gaza é uma urgência, destacou o Ministério das Relações Exteriores.
Confira abaixo a íntegra da posição do MRE:
“Ataque a tiros contra palestinos que aguardavam o recebimento de ajuda humanitária na Faixa de Gaza