Aumento da criminalidade em Pernambuco expõe insegurança no turístico Porto de Galinhas e desafia as autoridades estaduais.






Avanço da Criminalidade em Pernambuco

Avanço da Criminalidade em Pernambuco

Tiroteios, ações policiais com mortes e o histórico de superlotação no sistema prisional têm exposto o avanço da criminalidade em Pernambuco. A insegurança no estado afeta, inclusive, o balneário de Porto de Galinhas, em Ipojuca, principal ponto turístico do estado, no Grande Recife.

Entre janeiro e outubro de 2023, o estado teve 2.994 mortes violentas, o que inclui homicídios, latrocínios, feminicídios, lesões corporais com resultado em morte e óbitos durante ações policiais. No mesmo período de 2022, foram 2.839 mortes desses tipos. Ou seja, houve um aumento em 2023 de 5,4%. Em outubro, as mortes violentas caíram em relação ao mesmo mês de 2022 no estado, de 295 para 273. No entanto, o Grande Recife segue em alta nesses crimes desde julho e teve, em outubro, 137 assassinatos, ante 126 em outubro de 2022.

Um dos assassinatos de maior repercussão aconteceu no dia 19 de outubro. Um juiz foi vítima de um latrocínio a 300 metros de onde residia em Candeias, bairro de Jaboatão dos Guararapes. Quatro suspeitos estão presos e um adolescente foi apreendido por envolvimento no crime.

Além disso, os tiroteios também têm assustado a população da Região Metropolitana do Recife. Entre os dias 17 e 20 de outubro, houve quatro trocas de tiros com nove mortes. Um deles aconteceu em plena luz do dia no bairro de Casa Amarela, na zona norte do Recife. Outra troca de tiros aconteceu na comunidade Salinas, em Porto de Galinhas. Três homens morreram após uma suposta troca de tiros com policiais.

Em Porto de Galinhas, as atividades criminosas também têm chamado a atenção. No dia 12 de outubro, um turista cearense foi assassinado na faixa de areia da praia, que estava lotada. Um guia de turismo foi atingido por uma bala perdida e passou por cirurgia. Três suspeitos foram presos. De acordo com a Polícia Militar, os suspeitos eram parte de uma facção criminosa do Ceará e a vítima era jurada de morte por ter pedido desligamento da organização.

O histórico de violência em Porto de Galinhas não é recente. Em março de 2022, a menina Heloysa Gabrielle, 5, morreu depois de ser atingida por um tiro em meio a uma perseguição policial. Um agente da PM teria sido o autor do disparo. Após a morte, houve protestos e ônibus incendiados. Em outubro de 2023, a Polícia Civil prendeu 13 integrantes de uma das facções criminosas e responsabiliza o grupo pelos ataques de 2022.

Além disso, as mortes em consequência de intervenções policiais já somam 95 de janeiro a outubro, um aumento de 20% em relação ao mesmo período de 2022. Em setembro, oito pessoas morreram em Camaragibe, no Grande Recife, incluindo dois policiais. Os agentes foram atingidos por um suspeito. Em seguida, três irmãos, a esposa e a mãe do suspeito foram assassinados. O próprio suspeito também foi morto.

No dia 20 de novembro, policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais) entraram em uma casa após receberem uma denúncia de tráfico de drogas e mataram dois homens no Detran, zona oeste do Recife. Seis agentes da PM estão presos preventivamente e outros três estão em liberdade sob medidas cautelares. Todos os mortos pela polícia no Recife em 2022 eram negros, assim como em 2021. Ao todo, foram 91 vítimas do Estado no ano passado, e 61 delas tinham entre 12 e 29 anos.

Outro foco de problema é a superlotação no sistema prisional de Pernambuco. Levantamento do Conselho Nacional de Justiça apontou que, em agosto de 2022, a população carcerária total do estado representava 34.590 pessoas, para apenas 13.842 vagas, um excedente de aproximadamente 250%.

No final de agosto, o Governo de Pernambuco anunciou a saída da então secretária de Defesa Social, a delegada da Polícia Federal Carla Patrícia. Dias depois, a governadora Raquel Lyra (PSDB) anunciou o delegado da PF Alessandro Carvalho como novo titular da pasta responsável pela segurança pública. Alessandro Carvalho já exerceu o cargo de secretário de Defesa Social entre 2014 e 2016.

Para tentar reverter o cenário, o Governo de Pernambuco lançará, na segunda-feira (27), o novo plano estadual de segurança pública, chamado de “Juntos Pela Segurança”, em substituição ao “Pacto Pela Vida”, lançado nos governos do PSB, que saiu do poder também sob críticas em relação à segurança. A gestão estadual promete investimentos de mais de R$ 1 bilhão.

Edna Jatobá, bacharel em ciências sociais pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e especializada em políticas e gestão em segurança pública, afirma que as políticas de segurança pública precisam de continuidade. “As políticas de segurança têm sido feitas pensando nos resultados imediatos, no intervalo de quatro anos daquele mandato do Poder Executivo. E tem um momento em que elas saturam, se não houver articulação em outras camadas como medidas de prevenção à desigualdade. Pode não haver sustentação dos resultados obtidos nos primeiros anos se não houver algo para longo prazo”, afirma. “Além disso, há um sistema prisional que não dá conta de interromper a atuação de grupos criminosos”, acrescenta.


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