BYD lança pedra fundamental de complexo industrial em Camaçari, Bahia, e aposta no Brasil como segundo mercado global de veículos elétricos.



Empresa chinesa BYD investirá R$ 3 bilhões em complexo industrial na Bahia

No início de outubro, Wang Chuanfu, presidente global da BYD, esteve no Brasil e em Camaçari, a 50 quilômetros de Salvador, lançou a pedra fundamental do complexo industrial que o conglomerado fundado por ele instalará no país. A empresa ainda não sabia o destino exato do investimento, mas estava convencida de que o complexo industrial seria colocado de pé, independentemente do impasse político com a área ocupada pela Ford de 2001 a 2021.

A leitura vem de uma combinação de fatores conjunturais, estruturais e culturais. A matriz energética limpa, o gosto do brasileiro por carro, o tamanho da economia brasileira e sua influência sobre a América Latina e a crescente preocupação com o ambiente estão no centro da estratégia. A BYD está convencida de que o Brasil poderá se tornar seu segundo mercado fora da China e o primeiro fora da Ásia, na sequência.

Em seu país de origem, a BYDé a maior em todos os segmentos (elétricos ou não) e ultrapassou a americana Tesla entre os elétricos. Em 2022, foram vendidos 1,86 milhão de veículos de energia limpa (elétricos e híbridos), uma alta de 152,5% na comparação anual. Somadas todas as operações —carros, ônibus, trens, baterias e placas solares e componentes eletrônicos—, foram US$ 61,7 bilhões em receitas, um crescimento de 56% ante 2021.

O obstáculo para a consolidação do mercado de elétricos no Brasil é, antes de tudo, o preço. O Dolphin, lançado por aqui no primeiro semestre, custa R$ 149,8 mil (e é, atualmente, o elétrico mais vendido no país). Depois, tem a infraestrutura de carregamento, que além de restrita, precisa se multiplicar para atender as dimensões do Brasil. A expectativa da BYD é que a consolidação do mercado seja acompanhada pelo aumento da infraestrutura.

A BYD também tem cobrado do governo federal um plano de incentivo que chegue também a essa ponta da cadeia. A Raízen, empresa brasileira, investiu R$ 10 milhões em 2022 na Tupinambá Energia, startup de carregamento. Incorporadoras como a Cyrela e a Patriani incluíram carregadores nas garagens de todos os lançamentos recentes. As empresas com veículos elétricos rodando mantêm centrais de cargas em suas concessionárias em São Paulo, e as companhias de energia também têm investido nessas estruturas.

Para equilibrar o jogo, a BYD também quer produzir no Brasil um híbrido plug-in, o Song Plus, visto como uma alternativa mais atraente para quem usará o carro para viajar e não pode ficar dependente da escassa rede de eletropostos.

Os executivos do grupo têm repetido a intenção de transformar Salvador em um “Vale do Silício”. Para a empresa chinesa, é questão de tempo até o carro elétrico ganhar mercado —e ela pretende ser a líder do segmento também por aqui.

O impacto da chegada da companhia no Brasil pode ser visto na reação da associação das montadoras —a Anfavea fala em invasão chinesa ao defender o fim da isenção de impostos concedida aos elétricos importados— e pelo efeito que seu primeiro lançamento teve sobre o mercado local. As concorrentes com carros elétricos baixaram preços. O elétrico que será produzido na Bahia é hoje o mais vendido no país. Os chineses da BYD querem ser levados a sério e, sobretudo, querem propagar a ideia de que tudo é possível.

Nesse pacote, parcerias comerciais de todo o tipo estão sobre a mesa, seja para a instalação de pontos de carregamento, para novas fábricas ou para a exploração de minerais. A BYD levou até Shenzhen e Changzhou um grupo de jornalistas de Brasil, Chile, Colômbia, México e Costa Rica para mostrar todos os seus braços de atuação, e divulgar suas ambições recentes.


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