Caravana Viva Chile: brasileiros revisitam Estádio Nacional e relembram 50 anos do golpe de Pinochet

Em 11 de setembro de 1973, o Chile testemunhou o início de um período sombrio de sua história. O governo democrático de Salvador Allende foi brutalmente derrubado por um golpe militar, liderado pelo general Augusto Pinochet. Durante a ditadura pinochetista, o Estádio Nacional do Chile foi transformado em um campo de concentração, onde milhares de presos políticos, incluindo brasileiros, foram detidos e submetidos a torturas.

Cinquenta anos após esse episódio trágico, um grupo de brasileiros decidiu voltar ao Estádio Nacional para revisitar esse local que eternizou momentos de terror em suas vidas. A Caravana Viva Chile, organizada por ex-exilados brasileiros, reuniu dezenas de pessoas dispostas a encarar o passado e prestar homenagem às vítimas do golpe de 1973.

A visita ao estádio foi um dos momentos mais comoventes da Caravana. O concreto frio das galerias, as cadeiras da arquibancada e a pista de atletismo despertaram memórias dolorosas para os participantes. O objetivo era resgatar essas lembranças e promover um processo de cura individual para cada uma daquelas pessoas que vivenciaram o horror da ditadura.

Angelina Teixeira, uma das organizadoras da Caravana, passou cerca de um mês no Estádio Nacional como prisioneira política. Ela ressaltou a importância de estar ao lado de amigos e ex-companheiros de prisão durante essa experiência emocionalmente intensa.

Durante a visita guiada, os participantes puderam ver uma mostra especial em homenagem às mulheres que estiveram no campo de concentração. Nomes foram listados em um painel, incluindo o de Angelina, entre outras 27 brasileiras. Fotografias das prisoneiras e poemas ou mensagens escritos por elas também foram expostos.

Em seguida, a Caravana foi levada ao coração do estádio, onde homens e mulheres relembraram os dias sombrios que viveram ali. Iedo Fontes, um dos ex-presos políticos, apontou o setor em que ele e outros companheiros ficaram detidos. Ele também lembrou da presença de militares brasileiros no local, que ajudaram e ensinaram chilenos a torturar.

Solange Bastos, outra ex-prisioneira, destacou o fato de que os soldados chilenos que estavam no estádio não possuíam experiência em técnicas de tortura. Por outro lado, os militares brasileiros, que já atuavam em uma ditadura há quase dez anos, ensinaram várias modalidades de tortura aos chilenos.

A alimentação oferecida às mulheres presas, segundo Solange, era um pouco melhor do que a destinada aos homens. Frutas e pães em melhor estado eram entregues a elas, o que gerava uma preocupação em compartilhar esses alimentos com os prisioneiros do sexo masculino, que muitas vezes passavam fome.

O retorno desses brasileiros ao Estádio Nacional, após cinquenta anos, foi um ato de coragem e resistência. Eles enfrentaram seus piores pesadelos para honrar a memória daqueles que não sobreviveram aos horrores da ditadura pinochetista. Essa iniciativa da Caravana Viva Chile mostra a importância de manter viva a história e relembrar os tempos sombrios para que nunca mais se repitam.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo