Cenas vergonhosas marcam posse conturbada do novo presidente da Guatemala, em meio a denúncias de corrupção e instabilidade política.






Posse conturbada de Bernardo Arévalo na Guatemala

Posse conturbada de Bernardo Arévalo na Guatemala

A recente e conturbada posse de Bernardo Arévalo na Guatemala levou nove horas para ocorrer por causa das cenas vergonhosas protagonizadas por aqueles que tentaram melar a cerimônia.

Os responsáveis pelo episódio, que incluiu tapas e socos em plena sala principal do Congresso, estavam vinculados à gestão do então mandatário, Alejandro Giammattei, por meio das instituições que ele interveio ou cooptou durante sua gestão —Ministério Público, Corte Constitucional e Congresso.

Os guatemaltecos que vinham se manifestando há meses contra o governo chamavam esse grupo de “pacto dos corruptos”. O fato de o novo mandatário receber os atributos e fazer seu juramento —quando o sol já estava nascendo— nos dá esperanças de um retorno desse país à democracia.

Por outro lado, quem pensa que este é um final feliz de uma saga está equivocado. Arévalo terá imensos problemas. A questão da corrupção é uma das principais preocupações dos guatemaltecos. Ainda mais porque, na chamada “primavera de 2015”, um órgão criado em parceria com as Nações Unidas, a Comissão Internacional Contra a Impunidade na Guatemala, revelou tantos escândalos que levou a uma profusão de manifestações e festejos nas ruas quando, ao final, o presidente Otto Pérez Molina renunciou pouco antes de sofrer impeachment.

Hoje, está preso. Os guatemaltecos, nessa época, em sua maioria, queriam a continuidade dessas investigações e lhes parecia possível o fim da corrupção. Até que o poder passou às mãos dos corruptos.

A recuperação de seu partido, o Semilla, que foi desabilitado, será um dos desafios de Arévalo. Os parlamentares eleitos tomaram posse como independentes, o que significa que um congressista sem partido não pode ser líder de comissões ou ter outros cargos no Congresso. E o embate com a corte já começou, uma vez que os parlamentares escolheram para ser o chefe do Congresso Neri Ramos, que é do Azul, partido aliado do Semilla.

A presença de Giammattei também permanece como um obstáculo para Arévalo. Ainda que consiga sair do país, os EUA já cancelaram seu visto e o de sua família devido a acusações de narcotráfico. O ex-presidente é muito poderoso politicamente e ainda possui controle dos titulares de várias cortes e instituições.

A América Latina nunca foi uma prioridade para os mais recentes governos dos EUA. Difícil ver grandes diferenças, neste aspecto, entre Obama (um dos que mais deportou), Trump (que melou a aproximação com Cuba) e Biden. Deste, se esperava muito, porque conhece a região mais do que os demais e se mostrava um apoiador da democracia para os latino-americanos.

No fundo, assim como seus antecessores, Biden focou quase que apenas a imigração. E agora que começa a contagem regressiva para as eleições americanas, os republicanos terão um prato cheio, pois os números de imigrantes vêm crescendo e porque novas crises vêm surgindo na América do Sul: a dos imigrantes do Haiti, os equatorianos (cujo número vinha aumentando e deve se agravar com os atuais distúrbios), nicaraguenses, chineses, máfias dos Balcãs e tantos outros.

É muito importante para os EUA, e mais ainda para os guatemaltecos, que o país atinja a estabilidade. Porém, seu destino, por sua formação histórica, sua colonização, o genocídio maia, a exploração da United Fruit Company, o golpe contra Jacobo Arbenz, são uma série de traumas que ainda precisam ser compreendidos.

Como disse Eduardo Galeano em seu livro “Guatemala” (1967), “a Guatemala é o rosto, muito mal mascarado, de toda a América Latina. Sua face exibe o sofrimento e a esperança dessas terras despojadas de suas riquezas e do direito de escolher seu destino”.


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