Chile e Brasil: Ditaduras que marcaram a América Latina por décadas de repressão, polarização social e interferência dos EUA

Chile e Brasil: Ditaduras que marcaram a América Latina

No continente latino-americano, dois países foram marcados por ditaduras que deixaram cicatrizes profundas na sociedade e na memória coletiva de suas nações: Chile e Brasil. Durante os anos de autoritarismo, ambos os países viveram períodos de repressão, violações dos direitos humanos e limitações à liberdade política.

No Chile, a ditadura de Augusto Pinochet durou 17 anos, de 1973 a 1990. O regime foi instaurado após o golpe militar que derrubou o governo democraticamente eleito de Salvador Allende. Os antecedentes do golpe remontam à polarização social e econômica do país, causada em grande parte pelas medidas adotadas por Allende, como a nacionalização das minas de cobre e a reforma agrária. A interferência dos Estados Unidos também foi fator determinante para a queda de Allende, com financiamento de greves e apoio a grupos de extrema-direita.

No Brasil, o regime militar, que durou 21 anos, de 1964 a 1985, teve início com o golpe que depôs o presidente João Goulart, conhecido como Jango. Assim como no Chile, a interferência dos Estados Unidos foi um fator importante para a ascensão dos militares ao poder. Durante o regime, as violações dos direitos humanos foram recorrentes, com prisões, torturas e assassinatos de opositores políticos. A estrutura de poder no Brasil era baseada na figura do presidente, que acumulava o comando das Forças Armadas e do Executivo.

Em relação à economia, o Chile adotou uma doutrina neoliberal baseada na Escola de Chicago, que pregava o Estado mínimo e a livre competitividade. No entanto, as privatizações e o enxugamento das contas públicas resultaram em um aumento da desigualdade social e uma diminuição do poder de compra dos trabalhadores. Já no Brasil, durante a ditadura, houve um período de crescimento econômico chamado de “Milagre Brasileiro”, que resultou em um aumento médio de 10,2% ao ano. No entanto, a distribuição de renda não foi equânime e a desigualdade social aumentou.

No que diz respeito à repressão, tanto no Chile quanto no Brasil, os regimes utilizaram-se da violência para reprimir e controlar a oposição. No Chile, a polícia secreta de Pinochet, conhecida como Dina, sequestrava, torturava e assassinava opositores políticos. No Brasil, a repressão também se baseou em prisões, torturas e assassinatos, principalmente após a promulgação do AI-5 (Ato Institucional número 5) em 1968.

A oposição aos regimes ditatoriais no Chile e no Brasil partiu principalmente do operariado, de movimentos guerrilheiros e da Igreja Católica. A resistência contra as ditaduras foi gradualmente ganhando força e pressionando por uma transição democrática. No Chile, a grave crise econômica de 1972 e o plebiscito de 1988 foram determinantes para o fim do regime. No Brasil, as eleições diretas para presidente propostas em 1984 e a eleição indireta de candidatos oposicionistas em 1985 marcaram o fim da ditadura.

A relação com a memória das ditaduras é um tema ainda sensível em ambos os países. No Chile, uma comissão para investigar as violações de direitos humanos foi criada em 1990, porém, a lei outorgada durante o regime militar impedia o julgamento de muitos dos autores dos crimes. Somente em 2000, essas limitações foram superadas e o Judiciário passou a investigar os casos. No Brasil, a Comissão Nacional da Verdade foi instituída tardiamente, em 2012. O relatório final da comissão foi publicado em meio à crise política e econômica de 2014, porém, nenhuma das medidas recomendadas foi assumida como política de Estado.

As ditaduras no Chile e no Brasil deixaram marcas profundas na sociedade e na política de ambos os países. A luta pela memória e pela justiça continua até hoje, como forma de garantir que os horrores do passado não se repitam.

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