Cinco anos após o incêndio, a recuperação do acervo no Museu Nacional continua sendo um desafio.

No dia 2 de setembro de 2018, o incêndio no Museu Nacional chocou o país e trouxe à tona a importância de preservar o patrimônio histórico e cultural do Brasil. Entre as muitas histórias de coragem e dedicação naquele trágico dia, destaca-se a de Claudio Costa Fernandes, técnico laborista do setor de malacologia do Museu.

Com 35 anos de trabalho no Museu Nacional, Fernandes aprendeu desde cedo a importância de salvar os “tipos” em caso de algum incidente. Os “tipos” são os exemplares que definem uma espécie ou gênero na biologia, servindo como referência para a identificação de novos exemplares. E foi com essa lição em mente que Fernandes tomou uma atitude heroica ao saber do incêndio.

Correndo para a Quinta da Boa Vista, onde o museu está localizado, Fernandes se deparou com o palácio imperial em chamas. Mesmo diante do perigo, ele se dirigiu à sua seção, especializada em moluscos, e adentrou a sala, apesar da densa fumaça. Seu objetivo era resgatar a coleção de espécies tipo, que representam aproximadamente 90% do acervo de moluscos do Museu.

Com grande sacrifício e coragem, Fernandes conseguiu salvar a maioria dos “tipos”, mas suas mãos ficaram machucadas e cheias de bolhas por causa do intenso calor e da fumaça tóxica. Antes do incêndio, o Museu Nacional tinha uma das coleções de malacologia mais importantes do continente, com 52 mil lotes de moluscos e pelo menos 518 exemplares tipo.

Atualmente, cinco anos após o fogo, Fernandes trabalha para recuperar as peças que sobreviveram ao incêndio. Porém, muitos exemplares foram irremediavelmente perdidos. O acervo de insetos do Museu também foi gravemente afetado, com grande parte dos exemplares sendo destruídos pelo calor intenso e pelos telhados que desabaram.

A reconstrução do Museu Nacional é um desafio complexo e demorado. A fachada do prédio, inaugurada em setembro de 2022, foi a única parte totalmente reparada até o momento. A previsão é de que as obras dos blocos 2, 3 e 4 se iniciem ainda este ano e sejam concluídas até 2025. No entanto, a abertura completa do museu deve acontecer apenas entre 2026 e 2028, sem uma data fechada definida.

Para financiar a reconstrução, o Museu Nacional conta com um orçamento de R$ 445 milhões. Até o momento, 60% dessa verba já foi captada, incluindo recursos federais, repasses estaduais e doações da iniciativa privada. Diversas instituições de pesquisa e entusiastas amadores têm contribuído com doações de coleções privadas, auxiliando na reconstrução das áreas destruídas.

Além dos prejuízos materiais, o incêndio também causou a perda irreparável de parte da memória e história do Brasil. Setores como a etnologia sofreram grandes danos, com muitas peças e artefatos indígenas sendo destruídos. Porém, os pesquisadores têm trabalhado em diversas frentes para recuperar essa memória, publicando livros, reconstruindo peças e digitalizando o material para que seja preservado.

Apesar de todas as dificuldades e desafios, há uma esperança de reconstruir um Museu Nacional do século 21, inclusivo e participativo. Com a participação ativa dos indígenas, o novo museu será substancialmente diferente do antigo, valorizando ainda mais a diversidade cultural e biológica do Brasil.

Enfim, Claudio Costa Fernandes é um exemplo de coragem e dedicação na luta pela preservação do nosso patrimônio histórico. Sua atitude heroica ao enfrentar o fogo para salvar as preciosas espécies tipo do Museu Nacional nos lembra da importância de valorizar e proteger nossas instituições culturais e científicas.

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