Comandante da Marinha se queixa da obsolescência dos meios navais em discurso público na presença do presidente Lula.






Comandante da Marinha alerta para obsolescência dos meios navais em discurso com presidente Lula

O comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, se queixou nesta quarta-feira (13) da “obsolescência dos meios navais” em discurso público na presença do presidente Lula (PT).

A fala ocorreu durante evento de comemoração ao Dia do Marinheiro a bordo do navio Atlântico, atracado na base naval da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro.

“A concepção de um poder naval crível não pode ser posta ao efêmero e inesperado. A Marinha resiste à marcha da obsolescência dos meios navais; insta, no decurso, por reaparelhamento para o eficaz cumprimento da destinação constitucional; e das atribuições subsidiárias adjudicadas à Autoridade Marítima Brasileira”, afirmou o comandante.

Na fala, ele fez inclusive referência às articulações políticas para aprovação da PEC das Forças, proposta pelo senador Carlos Portinho (PL-RJ), líder do principal partido de oposição. Como a Folha mostrou, a Marinha participou da articulação da proposta e fez movimentos para mostrar apoio popular a ela.

“Em 2023, em coordenação com órgãos e instituições da administração pública federal, a Marinha buscou iniciativas que visam programação orçamentária com valor mínimo que assegure, no curto e médio prazo, previsibilidade de investimentos para perene e profícua consecução dos programas estratégicos”, disse almirante Olsen.

Lula deixou o evento sem discursar nem falar com a imprensa. Apesar da simpatia do ministro José Múcio Monteiro (Defesa), a PEC não é bem vista pela área econômica do governo, que acredita que uma indexação para o orçamento militar vai engessar ainda mais o Orçamento.

A fala ocorre uma semana após realizar uma cerimônia pública de desativação de um navio.

No texto enviado à imprensa, a Marinha citou que o evento marcava o início do processo de desativação até 2028 de 43 embarcações, cerca de 40% dos meios operativos da Força até 2028. O documento defendia a aprovação da PEC.

“Estudar possibilidades para permitir a elevação gradual do orçamento da Defesa é, portanto, determinante para que as Forças Armadas atinjam a capacidade operacional plena. Ressalta-se, também, que os investimentos em defesa são intensivos na geração de empregos e no desenvolvimento de ciência e tecnologia, trazendo inúmeros benefícios sociais para o Brasil”, concluía o comunicado.

Almirantes ouvidos pela Folha afirmam, sob reserva, que o presidente Lula manifestou reiteradas vezes desejo de aumentar os investimentos das Forças Armadas.

Não há certeza, porém, se o apoio ficará limitado a verbas destinadas pelo novo PAC (Programa de Aceleração de Crescimento) ou se dará na garantia de recursos no orçamento anual.

As propostas dos militares para indexar o orçamento da defesa em 2% do PIB (Produto Interno Bruto) são antigas. Elas têm como lastro a meta orçamentária de defesa estabelecida pela Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) para seus países-membros — entre os quais o Brasil não está.

Apesar da meta estabelecida pela aliança militar ocidental, apenas sete dos 30 países que integram o grupo têm orçamento equivalente a 2% do PIB ou mais, segundo o último relatório da Otan, com dados de 2022.

Na PEC apresentada pelo oposicionista Carlos Portinho, o percentual do orçamento cresceria 0,1 ponto por ano até alcançar o patamar dos 2%.

Em uma mudança de estratégia, José Múcio admitiu na última segunda-feira (11) que, para conseguir apoio do governo, pode baixar o percentual para 1,5%.

“É como disse muito bem o almirante: não vamos chegar a 2%. Se chegar a 1,5%… Nós só queremos saber quanto nós dispomos sem ficar pedindo favor”, disse o ministro durante almoço com jornalistas.

Na visão dele, mais importante que o percentual é garantir previsibilidade para o orçamento da defesa, já que os contratos para construção de submarinos, fragatas, aviões e blindados são de longo prazo.


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