Recentemente, a indústria da aviação foi palco de uma polêmica envolvendo os uniformes dos comissários de bordo. Tudo começou em 2011, quando a Alaska Airlines forneceu aos seus funcionários uniformes resistentes a água e manchas. No entanto, o que deveria ser uma melhoria na qualidade dos uniformes se transformou em um pesadelo de saúde para os comissários.
Logo após a chegada dos novos uniformes, os casos de alergias e problemas respiratórios começaram a surgir, o que levou os funcionários a entrarem com uma ação coletiva contra a fabricante das roupas. No entanto, a falta de evidências científicas quanto à toxicidade dos tecidos prejudicou a causa dos comissários, que pareciam ter perdido a batalha.
Mas a persistência dos funcionários e a realização de uma análise laboratorial revelaram a presença de produtos químicos irritantes nos uniformes, como metais pesados e corantes banidos em outros países. Além disso, um grupo de cientistas de Harvard provou que o aumento das queixas de saúde estava diretamente ligado à introdução dos novos uniformes, fornecendo embasamento científico às reclamações dos comissários.
Essa não foi uma situação isolada na indústria têxtil. Análises em amostras de uniformes escolares dos Estados Unidos e do Canadá detectaram a presença de compostos químicos nocivos, enquanto até mesmo calcinhas absorventes vendidas como “orgânicas, seguras, saudáveis e sustentáveis” apresentaram altos níveis de substâncias prejudiciais.
Além dos riscos à saúde, a indústria têxtil também causa impactos ambientais significativos. A produção e o descarte de roupas liberam substâncias tóxicas, contribuindo para a poluição do meio ambiente e afetando ecossistemas ao redor do mundo. Países desenvolvidos exportam toneladas de roupas usadas, causando uma crise de descarte em locais como Gana e o deserto de Atacama, no Chile.
Diante desse cenário, a pesquisa sobre a toxicidade dos produtos químicos nos tecidos e o desenvolvimento de processos de remediação da poluição têxtil tornam-se cada vez mais urgentes. Além disso, regulamentações mais rígidas e maior transparência sobre os produtos têxteis são necessárias para proteger a saúde dos consumidores e minimizar os impactos ambientais da indústria da moda.
Em resumo, a polêmica dos uniformes da Alaska Airlines é apenas um sintoma de um problema maior, que afeta tanto a saúde humana quanto o meio ambiente. Investir em soluções para a poluição têxtil e na conscientização dos consumidores sobre os riscos associados aos produtos têxteis deve ser uma prioridade, visando proteger a saúde pública e reduzir os impactos ambientais dessa indústria.
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Rossana Soletti é doutora em ciências morfológicas e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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