Debate presidencial na Argentina tem candidato ultraliberal questionando número de desaparecidos na ditadura

No primeiro debate televisivo entre os candidatos à Presidência da Argentina, ocorrido no último domingo (2), um dos momentos mais marcantes foi quando o ultraliberal Javier Milei afirmou que o número de desaparecidos durante a ditadura militar do país foi menor do que o estimado por organizações de direitos humanos. 

Milei, que lidera a maioria das pesquisas eleitorais, declarou em alto e bom som: “Não foram 30 mil desaparecidos, foram 8.753”. Essa afirmação gerou controvérsia, uma vez que o número oficial, compilado pelo Registro Unificado de Vítimas do Terrorismo de Estado, é de 8.631 mortos e desaparecidos no período de 1976 a 1983. No entanto, o próprio relatório reconhece que essa cifra é subestimada.

O candidato também criticou a visão distorcida da história, chamou os grupos guerrilheiros de terroristas e afirmou que durante os anos 1970 houve uma guerra, na qual as forças do Estado cometeram excessos. Além disso, ele criticou aqueles que utilizaram a ideologia dos direitos humanos para benefício próprio, principalmente para obtenção de lucros e negócios obscuros.

Por outro lado, Sergio Massa, candidato governista, iniciou seu discurso tentando se desvencilhar do impopular presidente Alberto Fernández, reconhecendo os erros cometidos pelo governo e pedindo desculpas. A inflação foi um dos temas mais abordados durante o debate, já que a Argentina enfrenta a terceira grande crise econômica de sua história democrática.

O evento, que ocorreu na cidade de Santiago del Estero, no norte do país, foi marcado por ataques entre os candidatos. Patricia Bullrich, candidata da oposição macrista e terceira nas pesquisas, mirou tanto em Milei quanto em Massa, ressaltando o antikirchnerismo.

A avaliação geral da imprensa argentina foi de que ninguém quis se arriscar muito durante o debate. Milei se apresentou de forma mais contida, Massa buscou apresentar um plano para um governo de coalizão e Bullrich tentou reforçar sua imagem de corajosa e linha-dura.

Este debate, diferente do Brasil, foi organizado pela Justiça Eleitoral e exibido em diversos canais e rádios. Os temas principais foram economia, educação, direitos humanos e convivência democrática. Uma novidade foram os direitos de resposta, que não existiam antes. O próximo debate está previsto para acontecer no próximo domingo (8), em Buenos Aires.

A candidata de esquerda Myriam Bregman foi a única a contestar as falas de Milei sobre a ditadura. Ela afirmou que seriam necessárias várias horas para responder às barbaridades que ouviu e ressaltou que foram 30 mil desaparecidos, caracterizando como genocídio. As declarações de Milei e a frase “foram 30 mil” foram muito comentadas nas redes sociais durante o evento.

Outro momento polêmico do debate foi quando Milei comparou-se a um leão e chamou Massa de gatinho mimado do poder econômico. Além dos quatro principais candidatos, Juan Schiaretti, peronista não kirchnerista e governador de Córdoba, também participou, mas obteve uma porcentagem baixa de votos nas primárias realizadas em agosto.

Nas últimas pesquisas, Milei lidera com cerca de 35% das intenções de voto, seguido por Massa com aproximadamente 30% e Bullrich com cerca de 25%. Uma pesquisa do instituto Atlas Intel divulgada nesta sexta-feira mostrou um empate técnico entre Milei e Massa.

A Argentina enfrenta graves problemas econômicos, como um déficit fiscal persistente, alta dívida externa, falta de credibilidade na moeda e escassez de dólares nas reservas públicas. Esses fatores têm contribuído para uma das maiores taxas de inflação do mundo.

No último ano, os preços subiram 124%, o que tem impactado negativamente nos salários e causado um aumento no número de pessoas abaixo da linha da pobreza. Apesar de uma baixa taxa de desemprego, quatro em cada dez argentinos não conseguem pagar suas despesas básicas, sendo considerados indigentes.

Diante desse cenário, a inflação foi o tema mais discutido durante o debate. Os principais candidatos de direita propõem medidas como a dolarização da economia, redução de gastos públicos e abertura dos mercados. Massa, por sua vez, aposta em investimentos nos setores energético, mineiro e agropecuário para equilibrar a balança comercial e obter mais dólares por meio das exportações.

Bullrich criticou a proposta de Milei de fechar o Banco Central e desviou de perguntas sobre seu plano econômico, criticando os protestos dos denominados “piqueteiros”. Já Massa não revelou os nomes cotados para comandar o Ministério da Economia e o Banco Central durante seu discurso, como era esperado.

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