Diversos partidos discutem formação de frente política com objetivo de enfraquecer influência do bolsonarismo nas eleições municipais.

Partidos de diferentes posições ideológicas estão debatendo a formação de uma frente para isolar candidatos bolsonaristas nas eleições para prefeito em todo o país no próximo ano. A proposta, lançada pelo grupo Direitos Já, vem sendo discutida nas reuniões realizadas em São Paulo. A estratégia consiste em incentivar a união dos partidos em cidades onde candidatos radicais que defendem a ideologia do ex-presidente Jair Bolsonaro têm chance de vitória, visando construir candidaturas unificadas.

A frente, composta por 15 siglas, sendo a maioria delas ligadas ao presidente Lula (PT), já realizou a primeira reunião em um hotel nos Jardins, em São Paulo. Participaram do encontro representantes de 11 partidos, como PT, PSB, MDB, PDT, PC do B, Rede, PV, Cidadania, PSD, PSDB e Podemos. PSOL, União Brasil, Avante e Solidariedade não estiveram presentes, mas ainda poderão se integrar à estratégia. O PSOL afirmou apoiar os esforços contra a extrema direita, mas justificou sua ausência por estar envolvido em um processo eleitoral interno.

Durante a reunião, ficou acordado que os representantes levariam a questão para ser discutida internamente em cada partido. No entanto, mesmo os entusiastas reconhecem que conciliar o enfrentamento à extrema direita com as alianças locais e as necessidades de composições com adversários em âmbito nacional é um desafio.

Esse movimento é inspirado na frente ampla que foi construída para garantir a eleição de Lula em 2022. A ideia é que o debate sobre a formação da frente também envolva a sociedade civil, contando com a participação de organizações não governamentais e personalidades que defendam a democracia. O sociólogo Fernando Guimarães, coordenador do Direitos Já, enfatiza que a mobilização é necessária para evitar o fortalecimento de forças extremistas nas prefeituras e Câmaras Municipais, uma preocupação comum no grupo devido às trepidações vividas sob o governo de Bolsonaro.

O PL, partido do ex-presidente Bolsonaro, tem a meta de aumentar o número de prefeitos de cerca de 300 para 1.500 no próximo pleito, contando com Bolsonaro como cabo eleitoral. Guimarães destaca que a análise dos candidatos não considerará apenas o partido ao qual pertencem, mas principalmente o compromisso desses candidatos com a democracia e sua postura em relação aos ataques de 8 de janeiro e ao negacionismo.

No entanto, o movimento descarta dialogar com PL, PP e Republicanos, partidos que apoiaram a campanha de reeleição de Bolsonaro e que, segundo o sociólogo, estão no campo da extrema direita.

A frente democrática concentrará seus esforços nas cidades com turno único de votação, pois acredita-se que nas cidades com dois turnos a aproximação dos partidos progressistas já é natural na segunda etapa.

O secretário nacional de comunicação do PT, Jilmar Tatto, apoiou a iniciativa, mas admitiu que há dificuldades de conciliação devido às disputas locais e às complexidades das federações partidárias.

A intenção de derrotar o bolsonarismo está alinhada com a tática que partidos como o PT planejam adotar em 2024, com o objetivo de evitar que a direita radical ganhe força para 2026. Mesmo com Bolsonaro inelegível, há a leitura de que seu campo de apoio possa aumentar sua influência no poder.

A frente democrática respeitará o direito de candidatos do lado oposto concorrerem, mas se organizará para vencê-los politicamente e na disputa eleitoral.

A proposta de selo de qualidade para os candidatos da frente, com a inscrição “Aqui é vida! Aqui é democracia!”, foi sugerida pelo publicitário Chico Malfitani, ex-marqueteiro de Guilherme Boulos (PSOL) na campanha para prefeito de São Paulo em 2020. A mensagem tem o objetivo de contrastar com o discurso de violência, morte e admiração pela ditadura militar pregado pela extrema direita.

O movimento Direitos Já, segundo Guimarães, teve um papel relevante na construção da coligação ampla de apoio a Lula no segundo turno das eleições do ano passado. O sociólogo ressalta a importância de se manter vigilante em relação à democracia, especialmente diante da estreita margem de votos que garantiu a vitória de Lula e da presença de bolsonaristas no Congresso Nacional. Para isso, é necessário engajar atores da sociedade civil nesse processo, conclui Guimarães.

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