Xamã Davi Kopenawa tem documentário baseado no livro “A Queda do Céu”
O renomado xamã Davi Kopenawa tem uma maneira peculiar de atingir o coração dos brancos, como ele mesmo costuma dizer, usando a palavra como uma flecha. No entanto, os cineastas Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha optaram por explorar outros meios para alcançar esse mesmo objetivo.
O livro de Kopenawa, intitulado “A Queda do Céu” e escrito em parceria com o antropólogo francês Bruce Albert, ganhou vida no documentário homônimo. O filme busca contrapor os valores ocidentais e transmitir a cosmologia yanomami para a sociedade não indígena.
O resultado desse esforço será apresentado na Quinzena dos Realizadores, uma mostra paralela ao prestigiado Festival de Cannes, que acontece entre os dias 14 e 25 do próximo mês. Esta mostra visa destacar diretores independentes e contemporâneos, sendo descrita por Eryk Rocha como “um espaço fecundo e cheio de ousadia”. Rocha, que já teve reconhecimento no festival, vê a participação como uma celebração da cultura yanomami e do cinema não convencional.
O documentário “A Queda do Céu” retrata a festa reahu, um ritual funerário yanomami que simboliza a passagem do falecido para o esquecimento. A equipe de filmagem passou um mês na comunidade de watoriki, na Amazônia, para registrar a cerimônia e mostrar a fusão entre duas formas diferentes de fazer cinema.
O filme é descrito como uma inadaptação do livro, promovendo uma conversa com a obra original e revelando questões atuais do Brasil, como a violência causada pelo garimpo ilegal nas terras indígenas. O documentário oferece uma nova perspectiva ao colocar os povos tradicionais como observadores e analistas, desafiando a antropologia tradicional.
O lançamento do filme em Cannes contará com a presença de Davi Kopenawa, cuja visão xamânica e críticas à sociedade contemporânea despertaram o interesse dos diretores. Gabriela Carneiro da Cunha destaca a importância do livro em refletir sobre os problemas sociais e culturais da atualidade, e ressalta a paixão gerada pela obra de Kopenawa.