Eleições argentinas: Kicillof reeleito governador com promessa de proteção de direitos, enquanto Milei defende programa neoliberal

O candidato Milei, que obteve menos de 30% dos votos, encerrou sua campanha anunciando sua entrada no segundo turno com estas palavras: “vamos colocar uma tampa no caixão do kirchnerismo!”. Por sua vez, Axel Kicillof, agradeceu aos eleitores pela vitória: “Aqui derrotamos os criminosos de lesa humanidade”. Ele ressaltou que a Argentina completa 40 anos de democracia e que este voto representa “ditadura nunca mais”.

Kicillof, ex-ministro da economia de Cristina Kirchner, foi reeleito governador da província mais populosa da Argentina. Com isso, ele continuará com seu programa de governo, que se caracteriza por uma presença forte do Estado, família, combate à meritocracia, educação pública universal, gratuita e obrigatória, saúde pública, país federal e espírito de cooperação com as outras províncias. Todos esses pontos são promessas que Milei, apelidado de “motosserra”, promete eliminar.

É interessante destacar a entrevista de Massa aos jornalistas estrangeiros após as eleições. Ele afirmou que a próxima fase do governo não se limitará apenas ao peronismo, mas será um governo de unidade nacional que trará os melhores representantes de diferentes forças políticas. Ele ressaltou que é necessário construir políticas de estado, como a ordem fiscal, o cuidado das reservas, o desendividamento, o desenvolvimento federal, a educação, o acesso à moradia e a proteção dos mais vulneráveis.

Neste momento, a União Popular (UP) deve definir sua estratégia de alianças para combater os riscos do fascismo. A experiência da aliança de Lula com Geraldo Alckmin é uma referência. Além disso, o partido União Cívica Radical (UCR), que está sendo atacado por Milei, pode migrar parte de seu apoio para Massa. É essencial que Massa continue deixando claro aos empresários aliados que seu programa de proteção de direitos não está em negociação.

Massa afirmou que deseja que o Congresso aprove um orçamento com superávit de 1%. Ele ressaltou que é preciso cortar benefícios orçamentários e tributários que foram sancionados ano após ano pelo Congresso. Ele deu como exemplo a isenção de impostos para proprietários agrícolas no exterior, enquanto os donos de casas e carros no país pagam impostos pessoais. Segundo Massa, é necessário construir um Estado eficiente e equilibrado em suas contas públicas.

Em relação às perguntas dos jornalistas brasileiros, Massa agradeceu ao presidente Lula e ao governo brasileiro pelo trabalho em conjunto em temas como energia, comércio bilateral e abertura de novos mercados. Ele ressaltou a importância de manter a integração com os países vizinhos, como o Brasil, e alertou para os riscos de romper com o Mercosul, o que poderia resultar na perda de empregos em diferentes setores.

Não é possível entender as eleições na Argentina sem considerar o contexto mundial. O país está no centro do confronto entre dois blocos econômicos e de poder global: um liderado pelos EUA e pelas potências capitalistas europeias, e outro composto por países emergentes como a China e a Rússia. Recentemente, ocorreram eventos significativos desse novo mundo multipolar, como a reunião da Cúpula Rússia-África e o Terceiro Fórum do Cinturão e da Rota. A Argentina obteve um swap de moedas da China, facilitando a superação de déficits de reservas impostos pela dívida com o FMI. É nesse contexto que Massa defende a unidade nacional, buscando mais educação, indústria e renda para os argentinos.

Por fim, é importante mencionar que a derrota da coligação Juntos pela Mudança resultou em sua desintegração. Macri e seus interesses financeiro-empresariais concentrados são os responsáveis pela ascensão de Milei. Milei chegou a insultar seus próprios aliados e promover propostas impossíveis, como a dolarização. No entanto, o eleitorado argentino não se deixará enganar por essas estratégias. É hora de encerrar essa palhaçada cruel e avançar na construção de um país melhor.

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