Ex-integrantes da cúpula da Segurança Pública e do Ministério Público da Bahia são suspeitos de interferir em investigações, diz relatório da PF.

Um relatório da Polícia Federal revela suspeitas de que ex-integrantes da cúpula da Segurança Pública e do Ministério Público da Bahia estiveram envolvidos em interferências nas investigações de desembargadores alvos da operação Faroeste, considerada a maior investigação sobre venda de decisões judiciais do Brasil. O relatório, assinado pelo delegado federal Pancho Riva Gomes em 31 de julho, aponta os investigados como suspeitos de participação em organização criminosa e outras irregularidades.

Maurício Teles Barbosa, delegado da Polícia Federal e ex-secretário da Segurança Pública da Bahia de 2011 a 2020, é um dos principais mencionados no relatório. Durante sua gestão, o estado enfrentou um aumento alarmante nos casos de homicídios, antecipando a atual crise na segurança pública. Barbosa foi exonerado do cargo em meio às investigações da operação Faroeste e foi denunciado em 2021 por participação em organização criminosa e obstrução de justiça. Atualmente, sua aceitação como réu está sendo avaliada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

De acordo com a investigação da Polícia Federal, Barbosa é suspeito de favorecer um grupo de desembargadores ligados a Adailton Maturino, conhecido como “falso cônsul”, em um esquema de grilagem de terras no oeste da Bahia. Maturino é acusado de obter decisões favoráveis dos desembargadores e recebeu uma homenagem de “amigo da PM” de Barbosa em 2018.

O relatório da PF, baseado em quebras de sigilo, delações premiadas e depoimentos de pessoas que trabalharam com o ex-secretário, aponta que os desembargadores ligados a Maturino teriam acionado a cúpula da Segurança Pública da Bahia para realizar operações policiais contra o grupo que disputava terras com o falso cônsul. Um dos delegados da Polícia Civil, Jorge Figueiredo, afirmou em depoimento que Barbosa e sua chefe de gabinete, Gabriela Caldas Macedo, solicitaram a abertura de uma investigação contra um grupo adversário de Maturino, alegando que se tratava de uma organização criminosa envolvida em grilagem de terras.

Além das interferências nas investigações, o relatório também menciona as relações entre a chefia do Ministério Público da Bahia e a Secretaria da Segurança Pública comandada por Barbosa. Em 2016, integrantes do Gaeco (grupo de combate ao crime organizado) do Ministério Público da Bahia deflagraram uma operação contra Maturino e sua esposa antes mesmo da primeira fase da operação Faroeste. Os indícios apontam que Maturino tinha conhecimento prévio da operação e que houve troca de informações entre Barbosa e a então chefe do Ministério Público, Ediene Lousado.

Procurada, a defesa de Maurício Barbosa negou as acusações e afirmou que a investigação não deve ser levada em consideração, uma vez que já existe uma denúncia em mãos do ministro do STJ, Og Fernandes. Em depoimento à PF, Barbosa também negou ter mantido contato com Maturino e afirmou não ter interferido nas investigações da Polícia Civil.

A defesa de Ediene Lousado, procuradora à época dos fatos, não se manifestou, e a defesa de Gabriela Macedo não foi encontrada. Lousado afirmou em depoimento à PF que sua relação com Barbosa era apenas institucional e que a troca de informações entre as instituições era comum.

A investigação sobre as supostas interferências na operação Faroeste promete trazer à tona esclarecimentos importantes e pode ter impacto tanto na segurança pública da Bahia quanto na relação entre o Ministério Público e a Segurança Pública do estado. Resta aguardar as decisões do STJ e acompanhar os desdobramentos desse caso.

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