Fazendas próximas a terras indígenas são identificadas como primeiros focos de incêndio na Amazônia

A região de Autazes, no Amazonas, tem sido palco de uma série de incêndios que ameaçam as terras indígenas e a subsistência do povo Mura. De acordo com dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os primeiros focos de incêndio foram identificados em fazendas localizadas no entorno das terras indígenas Murutinga/Tracajá, Cuia, Iguapenu e Recreio/São Félix.

Uma das propriedades rurais que chamou a atenção foi a Fazenda AM-359, de propriedade de André Maia dos Santos, um dos principais criadores de búfalos da região. Localizada entre as terras indígenas Murutinga/Tracajá e Cuia, a fazenda foi o ponto de origem de boa parte dos incêndios que se alastraram para as terras indígenas vizinhas.

Além disso, a família Maia tem histórico de conflitos com o povo Mura. Segundo relatório do Conselho Indígena Missionário (Cimi), André Maia e seu filho, Marcelinho Maia, que era vereador e faleceu em 2020, foram citados como agressores de indígenas Mura na TI Murutinga. O relatório relata que os indígenas foram cercados em uma área fora da Terra Indígena e que houve episódios de violência por parte da família Maia.

Os incêndios têm afetado diretamente a subsistência do povo Mura, que enfrenta dificuldades em encontrar áreas disponíveis para plantar e colher alimentos. Além disso, a falta de chuvas tem secado rios e igarapés, dificultando o acesso à água potável. A situação é especialmente preocupante na aldeia Taquara, onde a presença de búfalos tem poluído a água e afastado os peixes.

Paralelamente aos incêndios, o povo Mura enfrenta a pressão da multinacional Potássio do Brasil, que busca licenciar um projeto de extração de potássio dentro das terras indígenas da região. Coincidentemente, o presidente da Cooperativa dos Produtores de Leite da Região de Autazes (Cooplam), Manuel Maia, é diretor da Associação dos Criadores de Búfalos do Amazonas (ACBA), que tem ligação com a Potássio do Brasil.

A situação preocupa ambientalistas e indigenistas, que alertam para a devastação ambiental e a ameaça à cultura e subsistência do povo Mura. Enquanto os incêndios continuam a consumir as terras indígenas, os indígenas lutam para combater as chamas e ter acesso à água potável. A situação evidencia a urgência de medidas efetivas para proteger o meio ambiente e garantir os direitos dos povos indígenas.

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