Filha de Salvador Allende critica governo chileno por falta de clareza na rejeição à ditadura militar

No aniversário de 40 anos do golpe de Estado no Chile, a senadora Isabel Allende, filha do ex-presidente Salvador Allende, fez uma comparação entre a postura dos presidentes Sebastián Piñera e Gabriel Boric em relação à ditadura militar. Em uma entrevista à CNN, a senadora afirmou que Piñera foi capaz de dar uma mensagem clara de reforço à democracia e rejeição à ditadura, enquanto Boric tem enfrentado dificuldades nesse sentido.

Segundo Allende, Boric está sendo pressionado pela oposição a fazer uma revisão crítica do governo da Unidade Popular, coalizão liderada por seu pai. A senadora ressaltou que Boric enfrenta problemas em várias frentes, como a dificuldade em aprovar reformas no Congresso, a tentativa de reescrever a Constituição e conflitos com grupos indígenas e imigrantes.

A proximidade dos 50 anos do golpe tem acentuado a polarização política no Chile. A direita e a ultradireita têm ganhado influência no país desde o fim da ditadura, o que tem sido um desafio para Boric, que busca fortalecer a democracia e rejeitar as violações de direitos humanos cometidas no período ditatorial.

No entanto, a própria esquerda tem colocado entraves para as celebrações do aniversário do golpe. O Partido Comunista pressionou Boric a retirar a nomeação do jornalista Patrício Fernández, que foi considerado brando demais pela sigla. Por conta disso, as celebrações foram entregues a ministérios distintos.

Apesar dos desafios políticos, espera-se que as comemorações sejam grandiosas, com diversas atividades simbólicas, como um abraço ao La Moneda, uma marcha de mulheres e um evento no Estádio Nacional. Vários presidentes, como AMLO (México), Alberto Fernández (Argentina) e Gustavo Petro (Colômbia), devem estar presentes, porém a viagem do presidente Lula à Índia pelo G20 impossibilitará sua presença.

Apesar dos esforços do governo em esclarecer a verdade e buscar pessoas desaparecidas durante a ditadura, a crise política tem limitado a atuação de Boric. Com a direita dominando a Assembleia Constituinte e tendo maioria no Congresso, o presidente busca não desagradar o setor. Além disso, o pedido de uma declaração conjunta “Pela Democracia, Hoje e Sempre” não será assinado pelo PC e pela direita, o que evidencia a falta de consenso político no país.

A tristeza é que não é possível separar a memória da tragédia do golpe e dos mais de 3.000 desaparecidos da turbulência política atual.

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