Imprensa brasileira falhou ao cobrir a Lava Jato de forma acrítica, revelam especialistas em análise jornalística para a Folha.




Cobertura jornalística da Operação Lava Jato

A imprensa brasileira não adotou a criticidade esperada do jornalismo profissional na cobertura da Operação Lava Jato e reportou de forma desproporcional os trabalhos e as versões das autoridades policiais e judiciais do caso, segundo especialistas ouvidos pela Folha.

Parte deles, porém, diz que desde 2019 houve uma mudança nesse quadro, a partir da exposição de diálogos de procuradores e do então juiz Sergio Moro.

As mensagens foram obtidas pelo site The Intercept Brasil, que procurou a Folha em seguida e permitiu que o jornal tivesse acesso ao acervo e produzisse uma série de reportagens. Isso ocorreu após criteriosa pesquisa e avaliação de relevância jornalística.

A série de revelações dessas mensagens, conhecida como Vaza Jato, mostrou a proximidade entre juiz e procuradores e catalisou revisões de decisões no Judiciário.

A imprensa, segundo esses especialistas, deveria ter evitado o discurso de que quase todas as situações abordadas na operação eram de corrupção, já que parte delas teria sido enquadrada como financiamento irregular de campanha ou conflito de interesse.

O fato de generalizar as condutas como corrupção levou a um descrédito na política em geral, segundo eles.

A Lava Jato completou dez anos no último domingo (17) e ainda suscita debates sobre as condutas de autoridades, instituições, empresas e veículos de imprensa no caso.

O professor da ECA-USP Eugênio Bucci afirma que, até a Vaza Jato, a imprensa teve uma cobertura pouco crítica e que esse é um aspecto que merece uma reflexão e pode gerar aprendizado. “Muitas vezes era como se a força-tarefa [da Lava Jato] não fosse ela mesma o Poder, não fosse ela mesma o Estado.”

“O que vinha dela [Lava Jato] era muitas vezes recebido na rotina das redações como uma informação confiável, sem necessidade de checagem. Em geral, era como se a informação estivesse chegando para as redações de um correspondente, e não de uma autoridade que precisa ser vista com ceticismo”, disse.


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