O pedido de retomada da perícia foi feito pelo Bradesco, que é o maior credor da rede. O banco alegou que a Americanas estava agindo de forma desleal ao tentar atrapalhar o processo, considerando as medidas da varejista como “desesperadas”. O Bradesco classificou o movimento da empresa como “chicana” – termo jurídico que se refere a abusos.
Após suspender a ação a pedido da Americanas, a Justiça voltou atrás e rejeitou o pedido de suspeição, determinando a retomada imediata da análise das mensagens. A juíza deixou claro que não será tolerado o uso de suspensões temerárias e advertiu a empresa sobre as possíveis penalidades de litigância de má-fé e ato atentatório à dignidade da Justiça.
A Americanas reconheceu no início do ano uma inconsistência contábil de R$ 20 bilhões e pediu tutela cautelar à Justiça para evitar a antecipação das dívidas, que chegam a R$ 40 bilhões. A perícia nos emails dos executivos e conselheiros da empresa faz parte da ação movida pelo Bradesco, que é credor em R$ 4,7 bilhões.
A Americanas apresentou como motivo para a suspeição da Kroll o fato de a consultoria ter feito uma parceria com advogados contratados pelo Bradesco em um outro processo. No entanto, a juíza considerou que a manutenção da Kroll é justificada pelos argumentos apresentados pela consultoria e pela falta de evidências claras de impedimento e suspeição.
Na decisão, a juíza ressaltou que a perícia beneficiará as duas partes e que a prova colhida será utilizada no futuro, em uma eventual ação. Em fevereiro, houve um conflito que impediu a vistoria nos emails, quando um juiz substituto do Rio de Janeiro recusou um pedido da Justiça de São Paulo para a busca e apreensão das caixas de mensagens.
A Americanas afirmou, por meio de nota, que respeita a decisão da Justiça e está avaliando os próximos passos a serem dados. A empresa lamentou a posição do Bradesco, alegando que ela destoa da dos demais credores, que estão buscando um consenso para o plano de recuperação judicial, com o intuito de preservar os empregos e a função social da empresa.
A Americanas também responsabilizou o ex-CEO Miguel Gutierrez pela fraude na empresa e acusou o Bradesco de se opor ao pagamento de alguns credores, dificultando a produção de um efeito social relevante. O banco e o escritório Warde Advogados, representantes do Bradesco, não quiseram comentar sobre o assunto. Os representantes da Kroll não foram encontrados para comentar a decisão até o momento.