Mais de 102 milhões de brasileiros enfrentam carência de saneamento no país, revela estudo
Por João Silva, Jornalista da Folha Mercado
Mais de 102 milhões de brasileiros vivem diariamente com algum tipo de privação de saneamento no Brasil. Isso significa que uma a cada duas pessoas mora em uma residência sem acesso a serviços considerados básicos, como abastecimento de água, coleta de esgoto ou, simplesmente, um banheiro. Os dados, provenientes de um estudo feito com base nos dados da Pnad, serão divulgados nessa quinta-feira (16), e revelam a realidade enfrentada por milhões de famílias em todo o país.
O estudo, conduzido pelo Instituto Trata Brasil em colaboração com a consultoria Ex Ante e com o Cebds, analisou cinco tipos de problemas relacionados ao saneamento básico, revelando um quadro preocupante da situação das famílias brasileiras. Segundo os dados coletados, as residências com privação de saneamento são comumente encontradas em áreas rurais, cidades do interior ou assentamentos precários de regiões metropolitanas. Além disso, o Nordeste é a região mais afetada, com cerca de 40,3 milhões de pessoas enfrentando algum tipo de privação relacionada ao saneamento.
Um dos problemas mais alarmantes é a falta de coleta de esgoto, impactando quase 70 milhões de pessoas. Em uma reportagem publicada anteriormente, a Folha destacou que metade do esgoto do Brasil é despejado na natureza sem qualquer tratamento, causando danos ambientais e de saúde pública. O estudo do Instituto Trata Brasil revela que 42,7% das residências com privação de acesso à coleta de esgoto estão no Nordeste, onde estados como o Piauí enfrentam taxas alarmantes de desconexão às redes de saneamento.
O estudo também apontou que 4,4 milhões de brasileiros não têm acesso a um banheiro em suas casas, uma privação que atinge principalmente a população negra. Segundo o pesquisador do Instituto Trata Brasil, Fernando Garcia de Freitas, a falta de banheiro individual é um dos problemas que mais afetam a dignidade e a saúde humanas, destacando a necessidade de programas de reforma habitacional para solucionar essa questão.
Além disso, 23 a cada 100 casas no Brasil não recebem água diariamente, revelando outra falha no sistema de saneamento. A presidente do Instituto Trata Brasil, Luana Pretto, apontou que mais de 17 milhões de moradias sofrem com a falta de abastecimento diário de água, ressaltando a necessidade de ações para garantir o fornecimento constante, especialmente em regiões como Pernambuco, onde a falta de água é predominante.
Em vista dos resultados do estudo, Pretto enfatizou a importância de priorizar o tema do saneamento, reconhecendo a complexidade e diversidade regional do país. Ela ressaltou que o saneamento é um ativo político e que uma mudança de mentalidade é essencial para buscar soluções efetivas para esses problemas que afetam milhões de brasileiros diariamente.
