Morre aos 80 anos Edemar Cid Ferreira, fundador do Banco Santos, que alegava ter sido vítima de intervenção indevida



Edemar Cid Ferreira, fundador do Banco Santos, morre aos 80 anos

Edemar Cid Ferreira, fundador e antigo controlador do falido Banco Santos e que ficou famoso como colecionador de obras de arte e pela mansão extravagante que construiu no Morumbi, em São Paulo, morreu neste sábado (13), aos 80 anos, na capital paulista.

Em texto publicado na Folha em fevereiro de 2011, o economista disse que estava “patente que não houve ‘rombo bilionário’ algum na instituição”, e que isso foi um “pretexto para a intervenção do Banco Central”.

Uma das notícias mais repetidas em 2004 foi a intervenção e falência do Banco Santos, motivadas por um “rombo” de R$ 2,2 bilhões.

Seis anos depois, as contas do Banco Central (BC) foram corrigidas pela vida real. Do tal “rombo” de R$ 2,2 bilhões, o administrador da massa falida já arrecadou R$ 1,2 bilhão e receberá outros R$ 200 milhões em pagamentos a prazo.

Esses valores, mais R$ 700 milhões em descontos concedidos pelo administrador da massa aos devedores, perfazem R$ 2,1 bilhões.

Além disso, corre na Justiça a cobrança de outros R$ 3 bilhões que irão engordar o caixa da massa falida em benefício dos credores —já existem sentenças favoráveis em 1ª e 2ª instâncias.

Debitando-se R$ 500 milhões em debêntures de empresas holding do Banco Santos —Procidpar e Procid Invest—,são R$ 4,6 bilhões positivos, a demonstrar que a intervenção e a falência foram indevidas.

Então, que “rombo” foi esse, em que os créditos do Banco Santos eram de R$ 4,6 bilhões e os débitos eram de R$ 2,2 bilhões? O “rombo” era só uma farsa.

Uma rápida cronologia: em maio de 2004, o BC instalou cerca de 30 fiscais no Banco Santos. Esse fato foi amplamente divulgado pela imprensa e assustou o mercado. Houve uma série de saques de clientes.

Em novembro, mesmo com caixa positivo, o Banco Santos recorreu ao redesconto, solicitando R$ 700 milhões para suportar novos saques. Mas o Banco Central recusou o desembolso e, três dias depois, interveio no banco, que era saudável e tinha caixa positivo.

Hoje, está patente que não houve “rombo bilionário” algum na instituição e que isso foi mero pretexto para a intervenção. Não maquiei balanços, não desviei recursos nem fiz “lavagem de dinheiro”.

Sempre acreditei e acreditarei na Justiça, que começa a mostrar, por meio de centenas de sentenças favoráveis, que a razão estava do meu lado.

As informações erradas do BC e do interventor —materializadas no “Relatório Vânio”— levaram a uma ação de responsabilidade na falência que determinou que os 22 diretores do Banco Santos paguem à massa falida R$ 2,2 bilhões.

O “Relatório Vânio” e suas desastrosas previsões não se concretizaram. O então interventor e liquidante é o mesmo funcionário do Banco Central que hoje, no papel de administrador judicial, fiscaliza a si próprio. Não defende os credores, só os devedores.

A maioria dos devedores só começou a ser cobrada dois a três anos após a intervenção e pagou com descontos —que chegavam a 75% para grandes empresas. Descontos dessa grandeza não encontram paralelo no mundo dos negócios, pois eram dívidas contraídas por empresas de porte e com boa saúde financeira.

Para adiar o pagamento das suas dívidas, tais empresas alegaram falsamente na Justiça que, para obter os empréstimos, eram “obrigadas” a aplicar em papéis de empresas vinculadas ao Banco Santos ou ao seu controlador.

Hoje, já há centenas de sentenças judiciais rejeitando a falácia e obrigando tais empresas a quitar suas dívidas com a massa falida. Por sua vez, os principais credores do Banco Santos, incluindo vários fundos de pensão, entraram com ações judiciais contra os acordos que deram descontos de até 75% aos devedores.

Por outro lado, recursos externos que entraram no Brasil e estavam registrados legalmente no Banco Central foram, irresponsavelmente, apontados pela Justiça Federal como oriundos do Banco Santos.
A Justiça concluirá que se trata de mais uma invenção do então interventor e hoje administrador judicial da massa falida.

Quanto ao recentíssimo despejo de minha esposa Marcia Costa Cid Ferreira e de nossa família da casa de propriedade dela, na rua Gália, 120, onde vivemos há 23 anos, é cedo demais para comentá-lo, pois a decisão final cabe à Justiça.


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