Carolina Maria de Jesus, mais conhecida por seu livro “Quarto de Despejo”, vem sendo reconhecida agora mais do que nunca como uma escritora de ficção, com o recente lançamento do romance “O Escravo” pela Companhia das Letras.
Muitos ficaram surpresos ao descobrir que Carolina se aventurou em diversos gêneros literários, como poesia, contos, teatro, crônicas e romance. No entanto, foi como autora de diários que ganhou maior reconhecimento, sendo desencorajada a escrever qualquer outra coisa.
Este projeto de publicar os inéditos de Carolina Maria de Jesus faz parte de um esforço para resgatar a face menos conhecida da autora. De acordo com a pesquisadora Amanda Crispim, o conselho responsável por publicar os inéditos é majoritariamente composto por mulheres negras, e tem como coordenadoras a escritora Conceição Evaristo e Vera Eunice de Jesus, filha de Carolina.
O primeiro passo desse projeto foi o relançamento de “Casa de Alvenaria”, revelando trechos até então desconhecidos que mostram a relação complexa de Carolina com o jornalista Audálio Dantas. O segundo passo é o recente lançamento de “O Escravo”, um romance que traz uma história de amor e conflito familiar.
É notável a ausência de correções ortográficas ou adequações à norma padrão da língua portuguesa no romance, mantendo a linguagem autêntica de Carolina. Para Vera Eunice, a escolha das palavras da mãe reflete um “pretuguês”, ou seja, um português influenciado pela cultura negra e africana.
Segundo a pesquisadora Conceição Evaristo, a intenção de preservar a linguagem original da autora é para que o leitor tenha acesso à obra de maneira autêntica, sem perder a originalidade de Carolina.
O desejo de Vera Eunice é criar um centro cultural para preservar a memória da escritora na cidade mineira de Sacramento, onde Carolina nasceu. Ela busca o reconhecimento que considera merecido para a obra de sua mãe, querendo “colocar a obra de Carolina dentro da historiografia literária brasileira que ela merece. Um lugar de destaque e de respeito”.
Com o lançamento de “O Escravo”, espera-se que a obra de Carolina Maria de Jesus ganhe cada vez mais visibilidade e reconhecimento no cenário literário brasileiro.