O fim da democracia liberal capitalista: um panorama da crise iminente nas políticas e nos regimes ocidentais.

Jornalista analisa o desmoronamento do Bloco Soviético e suas consequências para o mundo contemporâneo

Na virada para os anos 90, o desmoronamento do bloco soviético impactou o mundo e fez emergir visões pessimistas sobre o futuro. Francis Fukuyama, em seu clássico “O Fim da História e o Último Homem”, defendeu a vitória final da democracia liberal capitalista. O surgimento dos Estados Unidos como a única superpotência mundial e o colapso da União Soviética reforçaram essa narrativa. No entanto, Robert Kurz alertou para a crise iminente da economia mundial e a impossibilidade do Ocidente e Oriente em conciliar seus modelos econômicos.

Kurz argumentou que a crise da modernização estava associada à falta de êxito das crenças orientais e ocidentais, levando à crise econômica. Ele alertou para a necessidade de repensar o sistema global. Além disso, Jacques Rancière, em sua obra “O Ódio à Democracia”, questionou a noção de democracia liberal como um modelo universal de sucesso e colocou em xeque os ideais iluministas que a sustentam.

Diante dessa conjuntura, reflexões sobre o futuro do sistema mundial assumem maior relevância. Kurz ressaltou que todas as regiões do mundo passaram por um processo de acumulação primitiva, mas que a atual Revolução Industrial 4.0 resultou na exclusão do trabalho como “mais-valia” do desenvolvimento e aumento da produtividade.

Essas visões críticas, diferentes de Fukuyama, apontam para a necessidade de repensar a governança global e o modelo econômico vigente. O surgimento de uma elite oligárquica e o advento do capitalismo digital e da robotização do trabalho humano reforçam o cenário de incerteza e instabilidade. As discussões sobre o futuro da democracia e do capitalismo tomam relevância diante desse contexto.

Diante disso, está em pauta o papel e alcance da democracia representativa nas sociedades. A visão de Rancière questiona a capacidade desse modelo de representação política de atender plenamente aos interesses populares e promover a igualdade e a liberdade para todos.

Além disso, surge a necessidade de repensar a democracia liberal e o livre mercado diante de suas incongruências. A dependência desses sistemas de um modelo econômico excludente e privado levanta dúvidas sobre sua sustentabilidade a longo prazo. Os pilares que sustentam a democracia liberal e o capitalismo são questionados diante do atual cenário global.

Assim, as ideias de Kurz e Rancière apontam para a necessidade de repensar o status quo e buscar novas formas de governança e modelos econômicos que promovam a inclusão e a participação popular. O desafio está em repensar o sistema global e promover mudanças que atendam efetivamente às demandas de uma sociedade cada vez mais conectada e informada.

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As críticas ao atual sistema democrático e ao capitalismo global reforçam a necessidade de um debate amplo e plural sobre os caminhos futuros da humanidade. Nesse sentido, as reflexões de Kurz e Rancière podem contribuir para a construção de um novo paradigma que promova a participação popular e a inclusão social em escala global.

Por fim, é preciso repensar o papel da democracia e do livre mercado diante de um mundo cada vez mais interconectado e complexo. As visões críticas desses pensadores apontam para a necessidade de refletir sobre os rumos da democracia e do capitalismo em um contexto de incertezas e desafios globais.

Referências:

  1. FUKUYAMA, Francis. O FIM DA HISTÓRIA E O ÚLTIMO HOMEM. Rio de Janeiro. Editora Rocco. 1992;
  2. KURZ, Robert. O COLAPSO DA MODERNIZAÇÃO: Da derrocada do socialismo de caserna à crise da economia mundial. Rio de Janeiro. Editora Paz e Terra, 1992;
  3. RANCIÈRE, Jacques.O ÓDIO À DEMOCRACIA. São Paulo. Editora Boitempo, 2014;
  4. MOUNK, Yascha. O POVO CONTRA A DEMOCRACIA: por que nossa liberdade corre perigo e como salvá-la. São Paulo. Editora Companhia das Letras. 2019;
  5. GRAEBER, David. TRABALHOS DE MERDA: uma teoria. Coimbra. Edições 70. 2022;
  6. JAPPE, Anselm. A SOCIEDADE AUTOFÁGICA – CAPITALISMO, DESMESURA E AUTODESTRUIÇÃO. Lisboa, Editora Antígona, 2019.

André Márcio Neves SoaresDoutorando em Políticas Sociais e Cidadania pelo Universidade Católica do Salvador/Bahia – UCSAL


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