Operação de combate ao garimpo ilegal na terra yanomami é marcada por confusão e falta de coordenação, oito meses após seu início

A decisão do presidente Lula (PT) de viajar a Roraima e anunciar a intenção de combater o garimpo ilegal na terra Yanomami em meio a uma crise humanitária indígena gerou uma série de ações por parte de diferentes ministérios, que buscavam formas de implementar um plano de retirada dos mais de 20 mil invasores da área. No entanto, a corrida parecia mais motivada pela busca de capital político em relação ao novo presidente do que por soluções para o complexo problema.

Nas discussões sobre a desintrusão da área, integrantes do governo mostraram desconhecimento até mesmo sobre os rios que cortavam o território. Foi decidido que as Forças Armadas liderariam a operação, em conjunto com a Polícia Federal, o Ibama e a Funai. Um quartel-general foi montado na sede da PF em Boa Vista.

Dias se passaram após a visita de Lula e nada acontecia. Agentes envolvidos no combate ao garimpo constataram que uma iniciativa dos militares levaria ainda mais tempo. Foi então que o Ibama, seguindo uma diretriz de Brasília, decidiu furar o acordo e iniciar as ações de combate aos garimpos, com o apoio da Funai e da Força Nacional. A operação teve início em 6 de fevereiro, mas apenas foi divulgada oficialmente no dia 8. No dia 10, as Forças Armadas e a PF foram a campo destruir maquinários e aeronaves utilizados no garimpo ilegal.

Os primeiros meses da operação foram marcados pela desarticulação e falta de cooperação, principalmente por parte dos militares. O Ibama e a Funai decidiram por si só improvisar uma barreira no rio Uraricoera, com o intuito de reduzir a velocidade das embarcações dos garimpeiros. Essa medida foi considerada um sucesso e forçou a redução da velocidade e o aumento das abordagens aos invasores.

Não era apenas na retirada dos garimpeiros que o governo estava confuso, mas também nas ações de saúde pública. A Funai não tinha uma presidente efetiva e técnicos da Fiocruz assumiram a liderança das ações emergenciais. Foi criado o COE (Centro de Operação de Emergências) para centralizar decisões e limitar o acesso ao território.

Após oito meses de ações emergenciais, os problemas persistem. O garimpo ilegal continua, assim como as doenças relacionadas a ele. Os garimpeiros voltam à área assim que as forças de segurança se ausentam. Um total de 190 indígenas morreram na terra Yanomami em 2023, sendo quase metade crianças de 0 a 4 anos. A pneumonia, desnutrição, malária e diarreia foram as principais causas de morte.

Segundo agentes que atuam na linha de frente, apenas uma ocupação constante e pontos permanentes de fiscalização garantirão o sucesso da operação na terra Yanomami. Caso contrário, os garimpeiros retornam imediatamente. A situação exige uma ação decisiva e eficaz por parte do governo para proteger o território e a vida dos indígenas.

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