Operação Guardião da Prosperidade contra os houthis gera pouca adesão internacional e questionamentos sobre eficácia da estratégia dos EUA







Empresas de logística impactadas por rota africana mais longa

Empresas do setor de logística têm optado por rotas mais longas, realizando o périplo africano, o que aumenta o preço do frete e, consequentemente, dos produtos comercializados. 

Porém, o impacto econômico da desestabilização do mar Vermelho não parece ser o suficiente para que os EUA angariem apoio internacional à sua campanha contra os houthis. 

Apesar de Washington ter convidado os 39 membros das Forças Marítimas Combinadas – uma coalisão de segurança marítima liderada pelos EUA no Oriente Médio – para participar da Operação Guardião da Prosperidade contra os houthis, somente 10 países aderiram oficialmente. Dentre eles, o único representante árabe é o Bahrein. 

A ausência de potências regionais do Oriente Médio na operação coloca em dúvida a efetividade do uso da força militar em um caso tão complexo, que tem como origem fundamental o conflito na Faixa de Gaza. 

“A opção militar dificilmente é a única opção, em quaisquer circunstâncias. No entanto, é possível afirmar que a escolha preferencial pelo veículo militar tem sido uma tendência quase estrutural da política externa estadunidense”, disse Forner. 

Segundo ela, os aparatos militares dos EUA, como o Pentágono, têm sido muito melhor financiados do que os instrumentos civis da política externa do país, como o Departamento de Estado. Por outro lado, o constante recurso à força militar tem se mostrado ineficiente no Oriente Médio, com “resultados desastrosos”. 

“A resposta militar também tem suas dificuldades”, disse o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia, Filipe Mendonça, à Sputnik Brasil. “Os combatentes houthis são hábeis em guerra irregular, constantemente em movimento com lançadores de mísseis móveis e utilizando táticas que dificultam o direcionamento eficaz por forças convencionais.” 

Segundo ele, os recentes ataques da Operação Guardião da Prosperidade não conseguiram diminuir o poder de fogo do grupo iemenita. O próprio presidente Biden reconheceu a ineficiência da operação, dizendo a repórteres que “a operação está parando os houthis? Não. Mas ela vai continuar? Sim”, reportou o The Intercept

“Para o governo Biden, a equação é difícil: se a resposta for dura demais, os EUA podem acabar por legitimar os houthis no Iêmen e na região”, considerou Mendonça. “Se a resposta dos EUA for branda demais, poderá aumentar a percepção de enfraquecimento da presença dos EUA na região, já bastante estremecida principalmente depois de Gaza, e dar um sinal ruim para um dos seus principais aliados, a Arábia Saudita.” 

Forner também acredita que a operação dos EUA pode aumentar a popularidade das forças houthis no Oriente Médio, que se coloca como a única que teria reagido às hostilidades israelenses em Gaza. “É provável que contribua, da mesma forma que pode contribuir – como já tem ocorrido – para o aumento do rechaço à presença dos EUA na região”, acredita ela. 

“E, diante disso, não apenas a reputação regional do país é danificada, mas também internamente aos EUA, é possível que esses acontecimentos amplifiquem as críticas ao governo Biden”. 

O presidente dos EUA é alvo de duras críticas, inclusive pelos seus correligionários, por não ter solicitado autorização do Congresso para utilizar a força contra os houthis. Em ano de embate eleitoral, o tema pode diminuir ainda mais a popularidade de Biden, considerou Forner. 

“Na minha opinião, diante das instabilidades no Oriente Médio e das incertezas da política doméstica dos EUA, a melhor saída para Biden nesta conjuntura crítica seria acabar com o estopim da crise, isto é, acabar com a guerra em Gaza”, concluiu o professor de Relações Internacionais da UFU, Filipe Mendonça. 

Na última semana, uma série de confrontos entre forças navais dos EUA e do Reino Unido contra o grupo houthi foram reportados. No domingo (21/01), as forças houthis anunciaram ter atacado com sucesso o navio de bandeira norte-americana Ocean Jazz. As Forças Armadas dos EUA, no entanto, negaram a informação.




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