Pastor Malafaia convoca protesto para domingo e reacende debate sobre golpismo escamoteado







Artigo Jornalístico

TESTANDO OS LIMITES
O notório irresponsável testa, mais uma vez, a tolerância do regime democrático com os que pretendem solapá-lo. Como deve restar óbvio a todo mundo, pretende que o evento do dia 25 seja apenas o primeiro de uma escalada cuja finalidade é pôr de joelhos o Poder Judiciário — hipótese, então, em que os processos que lhe dizem respeito seriam extintos, e sua elegibilidade, resgatada.

“Mas assim não se fez com Lula?”, indaga o idiota ou o canalha. A resposta é “não!” O agora presidente não insuflou seus seguidores contra o Judiciário. O petista foi condenado sem provas e preso; Dilma foi apeada do poder pelo impeachment, e não se viu nenhuma incitação à desordem. Suas respectivas defesas recorreram às instâncias legais, não à arruaça.

A propósito: mais de uma vez, pessoas que se dizem preocupadas apenas com o “bem do Brasil”, geralmente pertencentes às elites econômicas, indagam se não está na hora de “baixar a bola”; se Alexandre de Moraes — como se dependesse de sua vontade — não deveria “deixar esse negócio pra lá”; se o “mais prudente não é investir na pacificação”… Que não se tenha falado o mesmo sobre Lula — efetivamente condenado sem provas, reitero — e que se evoque a tolerância com os intolerantes, convenham, diz muito sobre os proponentes.

O GOLPISMO ESCAMOTEADO, MAS CONFESSO
Há um aspecto que seria quase cômico, não fosse a evidência de que se tratava de uma agressão às instituições. O pastor Silas Malafaia chama para si a responsabilidade pela convocação e, entende-se, pela organização do protesto do próximo domingo. Isso, por si, já encerra um estranhamento: trata-se, afinal e para todos os efeitos, de um líder religioso, não de um político.

No dia 28 de novembro de 2022, o pastor, aos berros, cobrava nas redes sociais que o então presidente liderasse um golpe militar e prendesse aqueles nas Forças Armadas que se negassem a obedecê-lo:
“Senhor presidente Jair Messias Bolsonaro, o senhor é o presidente legal em exercício; o senhor tem poder de convocar as Forças Armadas para botar ordem na bagunça que esse ditador [Moraes] fez, e se os militares não quiserem te obedecer, o Código Penal Militar, artigos 5º e 319, são presos!”.

Uma observação antes que avance. Os artigos citados por ele nada têm a ver com obediência devida. O homem pode fazer o livre exame da Bíblia (e como faz!), mas não do Código Penal Militar (COM). A obediência devida está no Artigo 163: “Art. 163. Recusar obedecer a ordem do superior sobre assunto ou matéria de serviço, ou relativamente a dever imposto em lei, regulamento ou instrução: Pena – detenção, de um a dois anos, se o fato não constitui crime mais grave”.


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