Peru: A história de luta por independência e soberania em constante ameaça de terrorismo urbano

Incubadora

A estratégia à qual aludimos foi incubada anos antes, quando a imprensa norte-americana começou a falar do “triângulo vermelho da América Latina” que constituía uma “ameaça para a democracia ocidental e cristã”, e que havia que ser quebrada a qualquer preço.

Derrubar Juan José Torres no Altiplano, arrasar o Chile e matar Salvador Allende, e deslocar do poder Velasco Alvarado, foram todos elementos de uma mesma fórmula, provavelmente idealizada por uma dupla sinistra: Nixon-Kissinger. Depois disso, assomaria o remédio: a fascistização da Força Armada de cada um desses países.

Peru: a terra com 7 milênios de história em constante luta por independência e soberania

Foi esse o prelúdio de Banzer, Pinochet, Videla e Fujimori. O “triângulo vermelho” se converteu em uma estranha figura geométrica obscura. O continente que já era cenário de luta contra o imperialismo passou a se converter em um real campo de concentração com o cemitério incluído.

Luta contra o “terrorismo”

Aqui, a bandeira foi “a luta contra o Terrorismo”. Apenas seu enunciado permitiu invadir e arrasar aldeias, saquear povos, roubar a mancheia, incendiar casas, violar mulheres, massacrar crianças, assassinar povoadores, exterminar localidades.

Diversos nomes assomaram ante o estupor de milhões de peruanos: Soccos, Accomarca, Llocllapampa, Santa Rosa, Pomatambo, Parcco Alto, Puccas, Huancapi, Cayara, para citar alguns.

Não é casual que os especialistas tenham concluído suas pesquisas assegurando que 75% das vítimas dessa violência fossem falantes de quéchua, povoações rurais, povos originários. Tampouco o fato de que ainda existam 15 mil pessoas simplesmente desaparecidas. Pareceria, no entanto, que é suficiente. Urge repetir a história.

Hermann Luebe e outros estudiosos do tema asseguram que, para que prospere o acionar terrorista, se requer debilitar ao extremo a estrutura da sociedade, decompor a moral cidadã, deslegitimar as instituições formais e castrar a capacidade operativa dos trabalhadores.

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Se além das palavras isso é feito como parte de uma mesma estratégia, e se agrega o discurso de políticos extremistas e jornalistas a soldo, se tem a possibilidade real de fazer viável a mensagem do terror.

Cenário atual e o “terrorismo urbano”

Diligente, o regime hoje imperante no Peru sonha com essa possibilidade. O faz partindo do caos social que se instaurou a partir do passado 7 de dezembro, quando um Golpe Seco derrubou Pedro Castillo e construiu um Poder Pentagonal, baseado na aliança do Executivo com o Congresso da República, os partidos da ultradireita, o empresariado, a cúpula castrense e a Grande Imprensa.

Essa “aliança” é a que outorga peso a Otárola para assegurar que “não lhes tremerá a mão” para repetir a história; isto é, matar outra vez.

Recentemente, e por iniciativa do Prefeito Metropolitano, Rafael López Aliaga, o da Capital aprovou um “projeto de Lei” que remeteu ao Legislativo. Propõe criar um novo delito: o “terrorismo urbano”. E, claro, considera como parte dele o protesto social, a perturbação da ordem e o uso de implementos que causem lesões – como paus ou pedras – contra as “forças da ordem”.

Para os responsáveis ou instigadores destas ações, propõe penas que vão de 20 até 30 anos de prisão. Sem dúvida, o que se busca é semear o medo.

É claro, então, que “o terrorismo” do século passado está de volta. Aliás, fizeram bem aqueles que apontaram um “um viés racista” registrado nas matanças recentes. Mas no caso, haverá de estender-se mais.

Gustavo Espinoza M. | Colunista na Diálogos do Sul em Lima, Peru.
Tradução: Beatriz Cannabrava


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