Pesquisadores recriam rosto de garota pré-histórica com olhos azuis e pele escura, desencadeando debate sobre a representação histórica.



Evolução humana e pré-história: cientistas lutam contra politização dos estudos

Eis mais um exemplo de que a pré-história tem se tornado cada vez mais um campo de batalha político no mundo todo: este texto no site Science Nordic, assinado por Hannes Schroeder, da Faculdade de Saúde e Ciências Médicas da Universidade de Copenhague. O pomo da discórdia que motivou o texto é a belíssima reconstrução artística abaixo, que retrata “Lola”, uma garota, membro de uma cultura de caçadores-coletores, que teria vivido há cerca de 6.000 anos.

O detalhe é que “Lola” viveu na região da atual Dinamarca. Mas a concepção artística a retrata com cabelos e pele escuros. Schroeder veio a público destacar que não está fazendo “ciência woke” (ou “politicamente correta”, para quem não gosta muito de usar esse termo em português) ao apresentar essa imagem da moça pré-histórica.

O detalhe aqui é o seguinte: o pesquisador da universidade dinamarquesa e seus colegas reconstruíram a aparência da garota a partir de seu DNA (o mais maluco de tudo: o material genético foi conseguido graças ao fato de que ela tinha usado como “chiclete” um pouco de resina de árvore, deixando nele sua saliva). E a análise genômica deixou duas coisas claras: ela muito provavelmente tinha olhos azuis E pele escura ao mesmo tempo.

A combinação só está presente nas populações europeias de hoje graças à imigração ou à miscigenação. Mas, na época em que Lola viveu, esses traços eram COMUNS entre os europeus que ainda eram caçadores-coletores, mesmo no caso dos que viviam na Grã-Bretanha e na Escandinávia. Genes ligados a uma tez clara chegaram por ali depois, trazidos por agricultores cuja origem última era o Mediterrâneo Oriental.

Cientistas que têm estudado esses genomas antigos são acusados de querer interferir nos debates modernos sobre imigração em solo europeu. O fato, porém, é que as categorias raciais baseadas na aparência de hoje também têm uma história de transformações. Não caíram prontas do céu e, em muitos casos, são resultados de eventos muito recentes quando vistos dentro do contexto mais amplo da evolução humana.

© 2022 jornalismo.com | Todos os direitos reservados


Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo