A base ideológica do governo argentino tem impacto direto nas relações internacionais e, consequentemente, na economia do país. A recém-eleita ministra das Relações Exteriores, Diana Mondino, afirmou que a Argentina não irá ingressar ao grupo dos Brics, uma decisão que reflete a postura do presidente Milei em relação a países do Sul Global, em especial a China e Arábia Saudita.
Para o economista Roncaglia, a postura do presidente revela uma visão elitista no âmbito geopolítico, afastando-se de possíveis aliados e fontes de financiamento. No entanto, mesmo com declarações oficiais da chancelaria argentina, ainda é cedo para determinar se a exclusão dos Brics será concretizada, pois Milei pode ser forçado a reconsiderar suas políticas para atender às necessidades reais do país.
A recusa em integrar os Brics também tem implicações financeiras, já que a China decidiu suspender um financiamento de US$ 6,5 bilhões para a Argentina, congelando o empréstimo até que o governo de Milei demonstre boa relação diplomática. Roncaglia destaca que a adesão aos Brics facilitaria acordos como o swap de moedas com a China, aliviando os problemas econômicos do país.
No entanto, a pressão popular por medidas eficazes para estabilizar a economia pode colocar em xeque a postura ideológica do presidente. À medida que mais pessoas se manifestam contra a inação do governo e a falta de resultados, a preocupação com as prioridades do país pode superar as questões ideológicas. Isso pode levar Milei a buscar alternativas de financiamento e restabelecer relações comerciais com outros países e blocos, como o Brasil.
Segundo Roncaglia, o discurso incendiário e elitista do presidente pode ser restringido pela necessidade de lidar com a realidade e as pressões populares. O governo ainda precisará buscar apoio internacional e financiamento, o que pode requerer uma postura mais flexível e pragmática, afastando-se do discurso radical que conquistou sua base de apoio.
